O que é Teoria de Resposta ao Item (TRI)?
A Teoria de Resposta ao Item (TRI) se refere a uma família de modelos matemáticos que buscam explicar a relação entre o nível de habilidade / traço latente (theta) e o padrão de resposta aos itens de um determinado teste/escala.
A TRI é baseada na premissa de que cada item do teste pode ser caracterizado por sua dificuldade e que a probabilidade de um indivíduo responder corretamente a um item depende não só de sua habilidade, mas também da dificuldade do item.
Pode ser considerada uma abordagem alternativa à Teoria Clássica dos Testes (TCT), que se concentra em pontuações de teste brutos e no uso de estatísticas descritivas, como média e desvio padrão. A TCT pressupõe que a pontuação do teste é uma combinação da habilidade do indivíduo e erro aleatório, enquanto a TRI procura estimar a habilidade do indivíduo independentemente dos erros de medida.
A TRI é amplamente utilizada na área de avaliação educacional, incluindo testes padronizados como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB).
Histórico da Teoria de Resposta ao Item
A história da TRI remonta aos anos 1940, quando Frederic Lord e seus colegas começaram a desenvolver modelos matemáticos para avaliar a habilidade dos indivíduos em testes padronizados. Lord é frequentemente considerado o pai da TRI, tendo publicado vários artigos importantes sobre o tema na década de 1950.
Nos anos 1960 e 1970, a TRI começou a se tornar uma abordagem popular na área de avaliação educacional. Vários modelos de TRI foram desenvolvidos, incluindo o Modelo de Dois Parâmetros (2PL), o Modelo de Três Parâmetros (3PL) e o Modelo de Quatro Parâmetros (4PL). Cada modelo de TRI é projetado para lidar com diferentes tipos de itens e para fornecer informações específicas sobre a habilidade dos indivíduos.
Modelos da Teoria de Resposta ao Item
A TRI apresenta diferentes modelos, cada um com suas próprias suposições e propriedades matemáticas. A escolha do modelo de TRI depende do tipo de item que está sendo avaliado e dos objetivos da avaliação.
Antes de descrevermos os principais modelos de TRI, precisamos ter em mente quatro conceitos ou terminologias utilizadas na TRI:
1-Dificuldade (b): refere-se ao nível de habilidade necessário para responder corretamente ao item. Quanto maior o valor de b, maior é a dificuldade do item.
2-Discriminação (a): refere-se à capacidade do item de discriminar entre indivíduos com habilidades diferentes. Quanto maior o valor de a, maior é a capacidade de discriminação do item.
3-Acerto ao acaso (c): refere-se ao grau de acerto do item pelos estudantes que não possuem a habilidade necessária para respondê-lo corretamente. Quanto menor o valor de c, menor é a chance de um estudante responder corretamente ao item por “chute”.
4-Erros aleatórios (d): também denominado como desatenção, são os erros em algumas questões por distratores externos.
Pronto! Agora que sabemos essas terminalogias, a seguir descrevemos os principais modelos de TRI.
Modelo de 1 parâmetro (1PL)
O Modelo de 1 Parâmetro (1PL) é o modelo mais básico da TRI. Nele, cada item de teste é caracterizado por um único parâmetro, chamado de dificuldade. Ele assume que a probabilidade de um indivíduo responder corretamente a um item é determinada de acordo com traço latente. Inicialmente, foi elaborado para escalas dicotômicas (certo e errado), porém, posteriormente foi ampliado para o uso em escalas do tipo Likert (politômicas).
Modelo de 2 parâmetros (2PL)
O Modelo de Dois Parâmetros (2PL) é um modelo que leva em consideração a dificuldade do item e a capacidade do item para discriminar entre indivíduos com habilidades diferentes. Portanto, o 2PL permite a estimativa da habilidade do indivíduo e da dificuldade do item.
Modelo de 3 parâmetros (3PL)
O Modelo de Três Parâmetros (3PL) é um modelo que leva em consideração a dificuldade do item, a capacidade do item para discriminar entre indivíduos com habilidades diferentes e a probabilidade de acerto ao acaso.
Modelo de 4 parâmetros (4PL)
O Modelo de Quatro Parâmetros (4PL) é o modelo mais complexo de TRI e leva em consideração a dificuldade do item, a capacidade do item para discriminar entre indivíduos com habilidades diferentes, a probabilidade de acerto ao acaso e um parâmetro que controla a taxa de acerto no nível superior da habilidade. Embora esse modelo exista, ele raramente é utilizado atualmente.
Um exemplo de pesquisa
A seguir vamos ver um exemplo simples, porém didático sobre como a TRI pode ser aplicada na área da educação.
Suponha que estamos avaliando a habilidade em matemática de um grupo de estudantes utilizando um teste de múltipla escolha. O teste consiste em 20 itens, cada um com quatro opções de resposta.
Para aplicar a TRI neste teste, precisamos primeiro calibrar os itens. Isso envolve a administração do teste para um grupo de estudantes representativo e a análise das respostas para cada item. A análise pode ser realizada com a ajuda de um software especializado em TRI (por exemplo na Academy utilizamos o Winsteps e R com pacote IRT), que estima os parâmetros dos itens.
Suponha que as análises do teste resultaram nos seguintes parâmetros para um dos itens:
– Dificuldade do item: 0,5
– Discriminação do item: 0,8
– Probabilidade de acerto ao acaso: 0,25
A dificuldade do item indica o nível de habilidade necessário para responder corretamente ao item. Neste caso, um estudante com uma habilidade de 0,5 tem 50% de chance de responder corretamente a este item.
A discriminação do item indica o quanto o item é capaz de diferenciar entre estudantes com habilidades diferentes. Neste caso, o item tem uma boa capacidade de discriminação.
A probabilidade de acerto ao acaso indica a probabilidade de um estudante acertar o item por acaso. Neste caso, a probabilidade é relativamente baixa.
Conclusão
A Teoria de Resposta ao Item (TRI) é uma abordagem que permite a avaliação das habilidades dos indivíduos, levando em consideração a dificuldade dos itens e a capacidade dos itens para discriminar entre indivíduos com habilidades diferentes. Além disso, a TRI permite a calibração dos itens, o que é essencial para a criação de testes confiáveis e válidos.
Neste post abordamos os principais modelos da TRI, incluindo o Modelos de 1PL, 2PL, 3PL e 4PL. Cada modelo tem suas próprias suposições e características, o que os torna mais adequados para diferentes tipos de itens e propósitos de avaliação.
Para se aprofundar nessa teoria sugerimos as referências dos livros: Embretson, S. E., & Reise, S. P. (2013). Item response theory. Psychology Press. e o outro de Hambleton, R. K., Swaminathan, H., & Rogers, H. J. (1991). Fundamentals of item response theory (Vol. 1). Sage.
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Como citar este post
França, A. (2023, 12 de abril). O que é teoria de resposta ao item (TRI) e quais são seus principais modelos? Blog Psicometria Online. https://www.blog.psicometriaonline.com.br/o-que-e-teoria-de-resposta-ao-item-tri-e-quais-os-principais-modelos/
Respostas de 4
Excelente. Estou tentando perceber esta Teoria uma vez que sou professor e desejava realizar avaliações de forma justa.
Dinis Guibundana
Maputo-Moçambique
Trabalho na área da avaliação, E gostaria de explorar essa area, e adquirir mais conhecimentos que possa aplicá-los na minha prática.
Gostaria de saber como funcionam os softwares para a TRI.
Sou uma cursista que estou a me especializar em Avaliação em larga escala.
Gostei imenso do resumo acima porque dicipou algumas dúvidas que eu tinha sobre a TRI.
Oi, Sofia. Que bom que o conteúdo foi útil. Obrigado pelo comentário!
Equipe Psicometria Online.