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Qual é o papel da matemática na carreira de psicometrista?

Marcos Lima

jan 29, 2025

Estudantes que se interessam pela carreira de psicometrista têm dúvidas sobre o papel da matemática na área. Em outras palavras, é preciso ser bom em matemática para ser psicometrista? Neste post, abordaremos essa questão. Além disso, também descreveremos algumas das atividades desempenhadas por psicometristas. Por fim, listaremos algumas competências relevantes nessa área de atuação, para além dos conhecimentos matemáticos.

O que é psicometria?

A psicometria é a disciplina que se dedica ao estudo dos métodos para mensurar construtos, isto é, variáveis que não são diretamente observáveis, como a inteligência ou a ansiedade. Além disso, a psicometria investiga as dificuldades associadas à mensuração desses construtos, buscando tornar os escores oriundos da mensuração mais confiáveis e interpretáveis.

A carreira de psicometrista é uma área promissora, pois esses profissionais são altamente requisitados em ambientes acadêmicos, em laboratórios de pesquisa, em setores de recursos humanos e em empresas de tecnologia educacional. Psicometristas são responsáveis por projetar, adaptar e validar instrumentos de mensuração, garantindo que as ferramentas usadas para medir construtos psicológicos sejam precisas e aplicáveis em contextos variados.

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O que um psicometrista faz?

Psicometristas desenvolvem, adaptam e validam instrumentos psicológicos, como inventários de autorrelato e testes cognitivos. Eles buscam garantir que os escores dos instrumentos tenham propriedades psicométricas adequadas. Além disso, eles fornecem diretrizes de como administrar tais instrumentos, de modo que as condições de mensuração sejam equivalentes entre examinandos.

Alguma das principais atividades de um psicometrista incluem:

  1. Desenvolvimento de instrumentos de medida: psicometristas constroem e adaptam instrumentos psicológicos, como testes de inteligência, escalas de personalidade e inventários de habilidades. O objetivo é garantir que os escores produzidos por esses instrumentos sejam válidos para medir características específicas;
  2. Análise quantitativa de dados: avaliam as propriedades psicométricas dos instrumentos (e.g., fidedignidade teste–reteste, consistência interna, validade preditiva). Além disso, aplicam técnicas estatísticas para testar teorias e hipóteses científicas;
  3. Equiparação de escores (equating): por meio de técnicas estatísticas, psicometristas ajustam diferentes formas de um mesmo teste para garantir que os escores sejam comparáveis, mesmo que diferentes grupos de examinandos tenham realizado versões distintas do teste;
  4. Testagem adaptativa computadorizada (computerized adaptive testing, CAT): eles desenvolvem bancos de itens e algoritmos que permitem a aplicação personalizada de testes. Nesse modelo, cada participante recebe uma sequência de itens ajustada ao seu nível de habilidade, reduzindo o número de itens administrados sem comprometer a confiabilidade dos escores;
  5. Calibração e escalonamento: psicometristas geram normas de interpretação de resultados com base em dados da população-alvo, como idade ou grupo cultural, para facilitar a compreensão dos escores. Isso inclui a criação de tabelas percentílicas e pontos de corte;
  6. Pesquisa e inovação: psicometristas aplicam teorias psicométricas, como a teoria de resposta ao item, e utilizam técnicas de machine learning para desenvolver soluções tecnológicas. Por exemplo, podem criar softwares educativos que, de forma adaptativa, escolhem o melhor conteúdo para a aprendizagem de cada usuário, similar ao funcionamento de ferramentas como o Duolingo.

É preciso ser bom em matemática para seguir a carreira de psicometrista?

Para quem considera a carreira de psicometrista, uma dúvida comum é a importância da matemática nessa profissão. A seguir, dividimos a resposta em duas partes, considerando duas grandes áreas dentro da psicometria.

Psicometria aplicada

A psicometria aplicada utiliza conhecimentos da teoria de medida para produzir instrumentos de mensuração e outras aplicações. Como uma metáfora, podemos pensar que quem opta por essa carreira, portanto, usa uma caixa de ferramentas para atingir um determinado objetivo.

Em geral, é possível ser um bom psicometrista predominantemente com conhecimentos matemáticos do ensino médio, com destaque para funções, probabilidade e estatística. Em particular, é importante entender os conceitos de função de 1º grau, probabilidade condicional, medidas de tendência central e de dispersão. Além disso, será necessário aprender como usar os principais testes estatísticos das ciências sociais e comportamentais.

Salientamos, contudo, que a compreensão dos tópicos anteriores em nível conceitual é suficiente. Por exemplo, na fórmula da correlação de Pearson, dividimos o quanto as variáveis X e Y variam conjuntamente (a covariância, no numerador) pela variabilidade presente em ambas as variáveis (os desvios-padrões, no denominador):

Desse modo, se uma ou ambas as medidas tiver variabilidade amostral baixa, o valor do r de Pearson terá restrições. Ao compreendermos quais fatores afetam uma estatística, podemos adotar estratégias para aumentar o valor dessa estatística (e.g., selecionar uma amostra mais ampla e heterogênea da população de interesse).

Em síntese, mais importante que dominar cálculos complexos, aspirantes à atuação em psicometria aplicada devem ter uma atitude positiva em relação à matemática. Esse conhecimento conceitual, aliado à prática, possibilitará uma atuação satisfatória como psicometrista.

carreira de psicometrista na área aplicada.

Psicometria básica

A psicometria básica é o ramo da psicometria interessado em desenvolver e/ou aprimorar procedimentos e técnicas de análises de dados. Por exemplo, esses profissionais testam novos métodos de retenção de fatores em análise fatorial exploratória, criam medidas de tamanho de efeito em modelos complexos de mediação e moderação e desenvolvem pacotes estatísticos amigáveis de análise quantitativa de dados (e.g., Factor, JASP, G*Power).

Vamos retomar a metáfora introduzida na seção anterior. Enquanto o psicometrista aplicado faz uso de ferramentas para atingir objetivos aplicados à mensuração de atributos psicológicos, o psicometrista básico cria novas ferramentas para deixá-las à disposição nessa caixa.

No caso de profissionais que optam por uma carreira em psicometria básica, é necessário um conhecimento matemático mais avançado. Profissionais dessa área precisam dominar algoritmos, estatística avançada, cálculo diferencial e integral, álgebra linear e até mesmo teoremas matemáticos.

Em síntese, aspirantes à atuação em psicometria básica precisarão de conhecimentos matemáticos mais sofisticados para atuar e até mesmo para consumir a literatura científica de periódicos técnicos, como Psychometrika, Psychological Methods e Multivariate Behavioral Research.

carreira de psicometrista na área básica.

Outras habilidades essenciais para a carreira de psicometrista

Ser um bom psicometrista requer um conjunto variado de habilidades, muitas das quais não são matemáticas. Primeiramente, é essencial ter uma boa compreensão das teorias psicológicas. Entender a base teórica dos construtos de interesse é crucial para a construção e a adaptação de instrumentos.

Além disso, psicometristas devem conhecer os principais arcabouços teóricos da mensuração, tais como a teoria clássica dos testes, a teoria de resposta ao item e o modelo do fator comum (subjacente às análises fatoriais exploratórias e confirmatórias). É importante que eles compreendam as técnicas disponíveis para lidar com problemas de fidedignidade, validade, invariância de medida e viés, entre outros.

Psicometristas também devem ter bom conhecimento sobre métodos de pesquisa, para que conheçam as vantagens e desvantagens de cada delineamento. Por exemplo, em estudos experimentais, busca-se aleatorizar a ordem de apresentação de itens para eliminar fatores de confusão. Em contrapartida, em estudos correlacionais, os itens são apresentados em ordem preferencialmente fixa, pois a aleatorização insere variância irrelevante ao construto de interesse, o que pode afetar negativamente a fidedignidade dos escores.

Por fim, uma boa habilidade de comunicação escrita também é fundamental. Psicometristas trabalham com profissionais de diferentes áreas e, frequentemente, precisam expressar resultados técnicos e estatísticos para um público mais amplo, como psicólogos, gestores e até o público em geral. Isso significa que saber explicar conceitos complexos de forma clara e acessível é um diferencial importante.

habilidades de escrita e de comunicação na carreira.

O papel da tecnologia e das ferramentas de software na carreira de psicometrista

Atualmente, a tecnologia desempenha um papel fundamental na psicometria. Assim, é importante que psicometristas saibam usar ferramentas que viabilizem a aplicação de técnicas estatísticas em sua prática profissional. Há opções comerciais (e.g., SPSS, MPlus) e gratuitas (e.g., JASP, jamovi) disponíveis para uma ampla variedade de técnicas analíticas.

Além disso, embora não seja estritamente necessário, aprender linguagens de programação (e.g., R, Python) pode ampliar as possibilidades de manipulação e tratamento de grandes volumes de dados. Por exemplo, smartphones e redes sociais geram dados em grande volume, velocidade e variedade, os chamados big data, que podem ser analisados por psicometristas interessados nessas informações.

Veja também a nossa playlist Profissão Psicometrista, no YouTube:

Conclusão

Neste post, discutimos uma questão comum entre aqueles que se interessam pela carreira de psicometrista: o quanto de matemática é preciso saber para atuar na área? Embora a matemática seja relevante na carreira do psicometrista aplicado (e essencial na do psicometrista básico), destacamos que outras habilidades também são importantes.

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Referência

Bandalos, D. L. (2018). Measurement theory and applications for the social sciences. The Guilford Press.

Como citar este post

Lima, M. (2025, 29 de janeiro). Qual é o papel da matemática na carreira de psicometrista? Blog Psicometria Online. https://www.blog.psicometriaonline.com.br/qual-e-o-papel-da-matematica-na-carreira-de-psicometrista/

Bruno Figueiredo Damásio

Sou Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia. Venho me dedicando à Psicometria desde 2007.

Fui professor e chefe do Departamento de Psicometria da UFRJ durante os anos de 2013 a 2020. Fui editor-chefe da revista Trends in Psychology, da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) e Editor-Associado da Spanish Journal of Psychology, na sub-seção Psicometria e Métodos Quantitativos.

Tenho mais de 50 artigos publicados e mais de 5000 citações, nas melhores revistas nacionais e internacionais.

Em 2020, saí da UFRJ para montar a minha formação, a Psicometria Online Academy.

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