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Como montar e organizar o banco de dados no SPSS?

Marcos Lima

nov 13, 2024

Neste post, daremos algumas dicas de como montar e organizar o banco de dados no SPSS. Primeiramente, descreveremos os dois principais formatos de bancos de dados tabulares. Em seguida, mostraremos como importar um banco de dados no SPSS. Posteriormente, apresentaremos as duas principais abas do SPSS, a saber, a aba Visualização de Dados e a aba Visualização das Variáveis. Nós então detalharemos as informações contidas na Aba Visualização das Variáveis, indicando como especificar os atributos das variáveis contidas no banco de dados. Por fim, nós mencionaremos o livro de códigos, um documento cuja função é auxiliar a compreensão do banco de dados.

Esse post será útil para você que já finalizou suas coletas e agora precisa montar e organizar seu banco de dados, para então proceder às análises propriamente ditas.

banner da NAOPARE.

Quais são os dois principais formatos de bancos de dados tabulares?

Em pesquisas quantitativas, é comum que os dados sejam dispostos em formato de tabela. No entanto, não existe apenas uma, mas, sim, duas maneiras principais de organizar dados tabulares, representadas nas Figuras 1 e 2.

Primeiramente, no formato amplo (wide), cada linha da tabela representa um participante, enquanto cada coluna representa uma variável. As variáveis mensuradas em múltiplas ocasiões, por sua vez, são representadas ao longo de várias colunas (Figura 1).

exemplo de banco de dados em formato wide.
Figura 1. Exemplo de banco de dados em formato amplo.

Por outro lado, no formato longo (long), usamos várias linhas para representar um mesmo participante. Quando temos medidas repetidas em nossa pesquisa, representamos cada momento de mensuração em uma linha distinta.

exemplo de banco de dados em formato long.
Figura 2. Exemplo de banco de dados em formato longo.

Qual é a importância de conhecer esses formatos? Em síntese, diferentes formatos de bancos de dados são adequados para conjuntos distintos de técnicas analíticas. Por exemplo, testes tcorrelações e regressões lineares e logísticas exigem que o banco de dados esteja no formato amplo, enquanto ANOVAs de medidas repetidas (no R), modelos lineares mistos e equações de estimativas generalizadas exigem que o banco de dados esteja no formato longo.

Neste tutorial, nos focaremos em um banco de dados em formato amplo, pois ele ainda é o mais comumente encontrado em pesquisas científicas.

Como importar um banco de dados no SPSS?

O banco de dados

Neste tutorial, usaremos um banco de dados simples, similar àquele da Figura 1, exceto que acrescentamos mais duas colunas, contendo informações sobre a religião e sobre a altura dos participantes. A Figura 3 mostra o conteúdo do arquivo, criado em formato .csv.

screenshot de banco de dados no Excel.
Figura 3. Banco de dados em formato .csv, no Excel.

Note que, em nosso tutorial, o banco de dados já foi criado fora do SPSS. Desse modo, para termos as variáveis em formato apropriado para o SPSS, as variáveis sexo e religiao foram codificadas de forma numérica (sexo: 0 = feminino, 1 = masculino; religiao: 0 = católico, 1 = evangélico, 2 = espírita, 3 = umbandista). Além disso, usamos o ponto, “.”, como separador de decimais da variável altura. Por fim, o cabeçalho das colunas explicitamente não usa espaço (recomendamos usar underscore, “_”, para separar palavras nos nomes de uma variável).

Importando o banco de dados no SPSS

Primeiramente, siga o caminho Arquivo > Importar > Dados (Figura 4).

como abrir banco de dados no SPSS.
Figura 4. Caminho para abrir banco de dados no SPSS.

Em seguida, selecione a pasta que contém o arquivo que você deseja abrir. Por exemplo, em nosso caso, o arquivo, cujo nome é dados.csv, está em uma pasta chamada Minha Pasta. Se o seu arquivo também está no formato .csv, certifique-se de marcar a opção Texto (*txt, *.dat, *.csv), em Arquivos do tipo (Figura 5). Por fim, clique em Abrir.

escolhendo qual arquivo abrir no SPSS.
Figura 5. Selecionando o arquivo que será aberto no SPSS.

O assistente de importação de banco de dados do SPSS

O SPSS abrirá um assistente de importação de texto, que terá 6 etapas. Neste tutorial, manteremos as configurações padrão nas etapas 1, 3, 5 e 6. Desse modo, mostraremos a seguir apenas as janelas referentes às etapas 2 e 4. Nas demais etapas, clique em Próximo ou, no caso da última etapa, em Concluir.

Na segunda etapa, você deverá informar ao assistente que as variáveis de seu banco de dados estão delimitadas. Em nosso caso, a delimitação ocorre por meio de vírgulas, que representam a separação entre as diferentes colunas. Além disso, você deverá indicar se a primeira linha do banco de dados representa ou não o cabeçalho. Como esse é o nosso caso, marcaremos a opção Sim (Figura 6).

Figura 6. Assistente de importação (etapa 2 de 6).

Por outro lado, na quarta etapa do assistente de importação, você deverá indicar qual é o símbolo que demarca a separação de colunas dos seus dados. Anteriormente, mencionamos que o nosso separador de colunas é a vírgula, cuja opção deverá ser marcada nessa janela (Figura 7).

Figura 7. Assistente de importação (etapa 4 de 6).

Abas Visualização de Dados e Visualização das Variáveis

Se você realizou todas as etapas corretamente, então seu banco de dados será adequadamente lido pelo assistente de importação do SPSS. Sendo assim, o SPSS apresentará um banco de dados em um formato parecido com aquele com o qual estamos acostumados no Excel (Figura 8).

Figura 8. SPSS na aba Visualização de Dados.

A Figura 8 mostra a aba Visualização de Dados. Lembrando, no formato amplo, cada linha representa um participante, enquanto cada coluna representa uma variável. Diferente do que acontece no Excel, não usamos a primeira linha do SPSS como cabeçalho. Ao invés disso, configuramos os próprios nomes dos cabeçalhos, para que reflitam nossas variáveis.

Isso é feito por meio da aba Visualização das Variáveis (Figura 9), que contém a lista de variáveis existentes no banco de dados. Primeiramente, essa lista é apresentada na mesma ordem das colunas da aba Visualização de Dados. Ou seja, qualquer mudança na ordem das colunas da aba Visualização de Dados refletirá nas linhas da aba Visualização de Variáveis, e vice-versa.

Figura 9. SPSS na aba Visualização das Variáveis.

Em seguida, veremos como podemos organizar nosso banco de dados manipulando as informações da aba Visualização das Variáveis.

Como organizar os atributos das variáveis do banco de dados no SPSS?

Antes de mais nada, precisamos entender quais são os atributos das variáveis, contidos na aba Visualização das Variáveis. Em seguida, listamos esses atributos e seus significados. Posteriormente, mostraremos alguns ajustes que podemos fazer em nossas variáveis.

Atributos das variáveis

As variáveis no SPSS possuem nove atributos principais, como mostrado na Figura 9:

  1. Nome: identifica a variável que aparece no topo da coluna na aba Visualização de Dados. Os nomes podem incluir letras, números e alguns caracteres especiais (como “$”), mas devem começar com uma letra. Recomendamos usar nomes curtos e descritivos, com underscores no lugar de espaços;
  2. Tipo: especifica o formato da variável, como numérico, data, sequência de texto etc. No SPSS, você trabalhará principalmente com valores numéricos;
  3. Largura: indica o número máximo de caracteres permitidos em uma variável. Por exemplo, se uma variável de texto tem largura 8, cada célula pode conter no máximo oito caracteres;
  4. Decimais: para variáveis numéricas, define o número de casas decimais exibidas após o ponto (por padrão, o separador de decimais do SPSS é o ponto, não a vírgula);
  5. Rótulo: permite adicionar uma descrição mais detalhada para a variável. Por exemplo, no Questionário de Ansiedade com o SPSS, o item QAS01 pode receber o rótulo “QAS 01. Estatística me faz chorar”;
  6. Valores: associa rótulos aos números. Para a variável sexo, podemos codificá-la como 0 = feminino, 1 = masculino;
  7. Ausente: atribui códigos para valores ausentes, como 999 para dados faltantes, sinalizando ao SPSS os casos que não responderam a uma questão;
  8. Colunas: define a largura da coluna na aba Visualização de Dados;
  9. Alinhar: determina se os dados serão exibidos alinhados à esquerda, à direita ou ao centro;
  10. Medir: indica o nível de mensuração da variável: Nominal, Ordinal ou Escalar;
  11. Função: designa o papel da variável (Entrada, Destino, Ambos, Nenhum, Partição ou Dividir). No entanto, esse atributo raramente é usado na organização do banco de dados.

Exemplo

No banco de dados que importamos no SPSS, faremos algumas modificações, de modo a melhorar a organização das informações:

  • Alinharemos todas as variáveis de forma centralizada;
  • Na variável sexo, definiremos os rótulos (Valores) 0 = feminino, 1 = masculino, enquanto que na variável religiao, definiremos os rótulos 0 = católico, 1 = evangélico, 2 = espírita, 3 = umbandista;
  • Nas variáveis depressao_pre, depressao_pos e depressao_followup, aumentaremos o valor em Colunas de 8 para 14;
  • Na coluna Medir, configuraremos as variáveis ID, sexo e religiao como Nominal, e todas as demais, como Escala;
  • Na coluna Rótulo, daremos um nome mais descritivo para cada uma das variáveis do banco de dados;
  • Deixaremos as variáveis dos participantes próximas uma das outras. Em outras palavras, selecionaremos as colunas religiao e altura, clicaremos sobre elas com o botão esquerdo e, sem soltar o botão, arrastaremos as duas de modo que elas fiquem entre sexo e depressao_pre.

As Figuras 10 e 11 mostram as abas Visualização das Variáveis e de Dados, respectivamente, após as modificações previamente descritas.

visualização das variáveis do banco de dados no SPSS após tratamento inicial.
Figura 10. Aba Visualização das Variáveis após modificações.
banco de dados no SPSS após tratamento inicial.
Figura 11. Aba Visualização de Dados após modificações.

No caso da aba Visualização de Dados (Figura 11), note que as variáveis nominais com rótulos (sexo e religiao) apresentam informações textuais, ao invés de valores numéricos. Desse modo, para alternar entre a apresentação dos números e dos rótulos a eles associados, basta clicar no ícone rótulos de valor:

ícone rótulos de valor para mostrar textos associados às respostas no banco de dados no SPSS.

Qual é a importância do livro de códigos na montagem e na organização do banco de dados no SPSS?

O livro de códigos, ou codebook, é um documento que explica detalhadamente os códigos usados no banco de dados para se referir às variáveis e aos valores atribuídos a elas. Ele contém o nome da variável no SPSS, seu significado (isto é, seu nome completo), as instruções de codificação da variável e eventuais observações que julgar importante registrar.

Desse modo, antes de entrar com os dados no SPSS, é fundamental que você prepare seu livro de códigos. Podemos prepará-lo em uma planilha do Excel, documentando as decisões tomadas durante o tratamento inicial do banco de dados. Por exemplo, uma decisão simples, mas que deve estar no livro de códigos, é a codificação feita nas variáveis sexo e religiao. Isso será importante para que você possa posteriormente organizar as informações na aba Visualização das Variáveis.

Desse modo, se você pretende analisar seus dados no SPSS, recomendamos que você primeiramente prepare o seu livro de códigos para só depois realizar a importação dos dados no SPSS e os tratamentos adequados no banco de dados. Somente depois de cumpridas essas etapas é que você dará início à fascinante etapa de análise de dados.

Conclusão

Neste post, você aprendeu como montar e organizar o banco de dados no SPSS. Caso você queira mais dicas valiosas para a preparação de seu banco de dados, veja o nosso post sobre como construir o livro de códigos para as análises de dados.

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Referência

Field, A. (2017). Discovering statistics using IBM SPSS Statistics (5th ed.). Sage.

Como citar este post

Lima, M. (2024, 13 de novembro). Como montar o banco de dados no SPSS? Blog Psicometria Online. https://www.blog.psicometriaonline.com.br/como-montar-e-organizar-o-banco-de-dados-no-spss/

Bruno Figueiredo Damásio

Sou Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia. Venho me dedicando à Psicometria desde 2007.

Fui professor e chefe do Departamento de Psicometria da UFRJ durante os anos de 2013 a 2020. Fui editor-chefe da revista Trends in Psychology, da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) e Editor-Associado da Spanish Journal of Psychology, na sub-seção Psicometria e Métodos Quantitativos.

Tenho mais de 50 artigos publicados e mais de 5000 citações, nas melhores revistas nacionais e internacionais.

Em 2020, saí da UFRJ para montar a minha formação, a Psicometria Online Academy.

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