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O que é erro Tipo I?

Marcos Lima

maio 21, 2021

No teste de significância da hipótese nula, tomamos decisões sobre rejeitar ou não uma dada hipótese. No entanto, esse processo é suscetível a erros. Neste post, explicaremos um desses erros na inferência frequentista: o erro Tipo I.

O que são hipóteses alternativa e nula?

Em estatística frequentista, a hipótese nula (H0) é aquela que buscamos nulificar, isto é, refutar. Tradicionalmente, essa hipótese afirma que não existe efeito ou relação entre variáveis. Já a hipótese alternativa (H1) afirma o contrário, ou seja, que existe um efeito ou relação entre variáveis.

Por exemplo, suponha que investigamos o efeito do consumo de café sobre a produtividade acadêmica, definida operacionalmente como o número de páginas redigidas em um dia. Nesse exemplo, podemos formular as seguintes hipóteses:

  • Hipótese nula (H0): não existem diferenças no número de páginas redigidas entre aqueles que consomem e aqueles que não consomem café;
  • Hipótese alternativa (H1): existem diferenças no número de páginas redigidas entre aqueles que consomem e aqueles que não consomem café.

Qual é a diferença entre nível de significância e valor de p?

Ao realizar um teste de significância da hipótese nula, definimos o nível de significância (α, letra grega alfa), que representa a probabilidade de rejeitar a hipótese nula, se ela for verdadeira. Esse valor reflete o quão improvável os dados precisam ser, assumindo que a hipótese nula é verdadeira, para decidirmos rejeitar essa hipótese.

Depois de coletar os dados, obtemos um valor de p, que indica a probabilidade de observarmos uma estatística tão extrema (ou mais) quanto a encontrada, caso a hipótese nula seja verdadeira.

Embora semelhantes, esses conceitos não são sinônimos. O nível de significância é definido antes das análises, enquanto o valor de p é calculado na própria análise de dados.

O salto em altura é um esporte que fornece uma metáfora útil para distinguirmos esses dois conceitos: o alfa representa a altura da barra (critério de sucesso), enquanto o valor de p reflete o salto em si (resultado real). Se o salto (valor de p) superar ou for igual à altura da barra (nível alfa), então rejeitamos a hipótese nula (Figura 1).

metáfora do esporte salto em altura para falar de nível de significância e valor de p.
Figura 1. Metáfora para diferenciar nível de significância (o critério de rejeição da hipótese nula, representado pela barra) e valor de p (os dados, representado pelo salto da atleta).

O que é erro Tipo I?

Mesmo quando rejeitamos a hipótese nula com base no valor de p, existe a chance dessa hipótese ser verdadeira. Se isso ocorrer, cometemos o erro Tipo I. Em outras palavras, o erro Tipo I consiste em rejeitar a hipótese nula, quando ela é verdadeira.

Na realidade, quando definimos o nível alfa, significa que estamos dispostos a tomar a decisão incorreta de rejeitar a hipótese nula, quando ela for verdadeira, em até 5% das vezes que realizarmos um teste de hipótese.

Ao definir α = 0,05, estamos aceitando uma margem de erro em que rejeitaremos a hipótese nula verdadeira em até 5% dos casos. No entanto, se quisermos adotar um critério mais conservador, podemos usar α = 0,01, reduzindo esse erro para 1%, o que exige dados mais surpreendentes para rejeitar a hipótese nula.

Contudo, ao reduzir o erro Tipo I, aumentamos a probabilidade de cometer o erro Tipo II, que ocorre quando não rejeitamos uma hipótese nula falsa. O desafio, portanto, está em equilibrar esses dois tipos de erro.

Por fim, vale observar que, em algumas situações de pesquisa, o erro Tipo I pode estar sendo inflado sistematicamente, por conta do número de testes estatísticos realizados. Quando queremos realizar múltiplos testes, mantendo a taxa nominal de erro Tipo I em 5% (ou em outro valor especificado), precisamos realizar algum tipo de correção para comparações múltiplas, como a correção de Bonferroni.

Como me lembrar do que é erro Tipo I e erro Tipo II?

Diferenciar os erros dos Tipos I e II pode ser inicialmente difícil. Desse modo, visando facilitar essa diferenciação, apresentamos um exemplo: considere a hipótese nula “uma pessoa não está grávida”. A Figura 2 ilustra os dois tipos de erros, a depender da veracidade ou falsidade dessa hipótese nula e da decisão tomada sobre rejeitá-la ou não.

ilustração dos conceitos de erro Tipo I e erro Tipo II.
Figura 2. Ilustração didática dos erros Tipo I e II.

O erro Tipo I ocorre quando afirmamos que a pessoa está grávida (rejeitamos a hipótese nula), mas ela não está, isto é, cometemos um falso positivo (Figura 2, célula no canto superior esquerdo).

Por outro lado, o erro Tipo II acontece quando não afirmamos que a pessoa está grávida (não rejeitamos a hipótese nula), mas ela de fato está grávida, isto é, cometemos um falso negativo (Figura 2, célula no canto inferior direito).

Veja também: O que é erro Tipo II?

Conclusão

Neste post, explicamos o conceito de erro Tipo I. Além disso, relacionamos esse erro ao erro Tipo II, que também deve ser considerado quando conduzimos testes de significância da hipótese nula.

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Referência

Field, A. (2017). Discovering statistics using IBM SPSS Statistics (5th ed.). Sage.

Como citar este post

Lima, M. (2021, 21 de maio). O que é erro Tipo I? Blog Psicometria Online. https://www.blog.psicometriaonline.com.br/o-que-e-erro-do-tipo-i/

Bruno Figueiredo Damásio

Sou Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia. Venho me dedicando à Psicometria desde 2007.

 

Fui professor e chefe do Departamento de Psicometria da UFRJ durante os anos de 2013 a 2020. Fui editor-chefe da revista Trends in Psychology, da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) e Editor-Associado da Spanish Journal of Psychology, na sub-seção Psicometria e Métodos Quantitativos.

 

Tenho mais de 50 artigos publicados e mais de 5000 citações, nas melhores revistas nacionais e internacionais.

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