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Como escrever uma revisão sistemática? A declaração PRISMA

Marcos Lima

set 18, 2024

Você e seus colegas dedicaram meses a um projeto de revisão sistemática, e agora chegou o momento de redigir o artigo científico que apresenta os resultados desse trabalho. Mas como garantir que esse projeto seja descrito de forma clara e completa aos leitores? Felizmente, existe a declaração PRISMA, um protocolo extremamente útil para orientar o relato detalhado de revisões sistemáticas.

Neste post, você vai entender o que é a declaração PRISMA e quando aplicá-la na sua própria revisão sistemática. Além disso, explicaremos o que é o fluxograma PRISMA, que facilita a visualização das etapas da revisão. Por fim, indicaremos algumas ferramentas que podem ajudar na construção desse fluxograma de maneira eficiente.

O que é a declaração PRISMA?

Em um encontro de três dias, realizado em 2005, uma força-tarefa composta por 29 participantes (incluindo pesquisadores, metodólogos, clínicos e revisores) expandiram um guia de relato de revisões metanalíticas de ensaios clínicos randomizados (o QUality Of Reporting Of Meta-analyses; QUOROM).

A força-tarefa melhorou esse guia, levando assim à criação do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (Principais Itens para Relatar em Revisões Sistemáticas e Metanálises; PRISMA). A declaração PRISMA (logo na Figura 1), portanto, consiste em diretrizes que visam melhorar a transparência e o rigor no relato de revisões sistemáticas e metanalíticas.

logotipo da declaração PRISMA.
Figura 1. Logo da declaração PRISMA.

A declaração PRISMA inclui uma lista de verificação de itens essenciais que pesquisadores devem abordar em uma revisão sistemática. Por exemplo, a versão mais recente do PRISMA, isto é, o PRISMA 2020 (Page et al., 2022), contém 27 itens, que cobrem as diferentes seções (e.g., Resumo, Introdução, Método) e tópicos (e.g., etapas da revisão sistemática) que o relato de uma revisão deve conter.

Além disso, diversas revistas científicas amplamente adotam a declaração PRISMA como requisito de aceite de submissões de revisões sistemáticas. Embora a simples menção ao PRISMA em um artigo não seja garantia de sua qualidade, o endosso à declaração PRISMA por parte de revistas científicas estão associadas a uma maior qualidade dos estudos publicados nessas revistas (Panic et al., 2013).

Dessa forma, seguir essas diretrizes aumenta as chances de publicação, além de facilitar que outros pesquisadores compreendam seu trabalho e consigam reproduzi-lo ou estendê-lo.

Veja também: AMSTAR-2: ferramenta para avaliação de revisões sistemáticas e metanálises

Quando usar a declaração PRISMA?

Você deve usar a declaração PRISMA sempre que estiver realizando uma revisão sistemática ou metanalítica. Além disso, pesquisadores podem usar a declaração PRISMA em atualização de revisões sistemáticas, bem como em revisões sistemáticas continuamente atualizadas (living systematic reviews).

Contudo, vale ressaltar que a declaração PRISMA é uma ferramenta que orienta a redação científica da revisão sistemática, mas que não é um guia metodológico de condução da revisão sistemática propriamente dita. Para orientações sobre como conduzir revisões sistemáticas, o leitor interessado pode consultar o Cochrane handbook for systematic reviews of interventions (Higgins & Thomas, 2019).

A declaração PRISMA e o fluxograma PRISMA

A declaração PRISMA consiste nas diretrizes de relatos de revisões sistemáticas, enquanto o fluxograma PRISMA é um dos elementos dessa declaração.

O fluxograma PRISMA oferece uma representação visual das etapas que você seguiu ao selecionar os estudos incluídos em sua revisão sistemática. Com ele, é possível acompanhar desde a identificação dos artigos, passando pela triagem e seleção, até a inclusão final dos estudos na análise.

O fluxograma é útil porque ele mostra, de forma clara, quantos estudos foram excluídos em cada etapa e por quais razões. Dessa maneira, outros pesquisadores podem entender rapidamente como você chegou ao conjunto final de estudos. Essa transparência, portanto, é crucial para possibilitar a compreensão e a reprodutibilidade do estudo.

Você pode baixar os modelos de fluxograma PRISMA no site da organização (https://www.prisma-statement.org/prisma-2020-flow-diagram). Além disso, existe existe um pacote do R que serve para criar o fluxograma PRISMA 2020 (Haddaway et al., 2022).

Os criadores desse pacote também desenvolveram uma ferramenta gratuita e amigável para construir o fluxograma PRISMA. Desse modo, mesmo sem saber programar em R, você é capaz de criar em poucos minutos um fluxograma PRISMA usando o Shiny App de Haddaway et al. (2022). Foi o que fizemos na Figura 2.

exemplo de fluxograma baseado na declaração PRISMA.
Figura 2. Exemplo de fluxograma PRISMA gerado usando o Shiny App baseado no pacote PRISMA2020 do R.

Como fazer o fluxograma PRISMA para revisão sistemática?

Criar o fluxograma PRISMA pode parecer complicado no início, mas com as orientações corretas, ele se torna uma ferramenta simples e eficaz. O primeiro passo é registrar todos os estudos que encontrou nas bases de dados. Em seguida, é necessário documentar quantos desses estudos foram excluídos após a leitura dos títulos e resumos, e quantos foram excluídos após a leitura completa dos artigos.

O fluxograma PRISMA é composto por diversas seções (veja a Figura 2). Os estudos retidos nas diferentes etapas são indicados pelas setas verticais, enquanto os estudos excluídos são indicados pelas setas horizontais, que justificam as razões para as exclusões.

Na etapa de identificação, você lista o número total de registros encontrados nas diferentes bases de dados. Se você usar mais de uma base de dados, então provavelmente irá excluir alguns registros duplicados, isto é, que são recuperados em mais de uma base de dados.

Na etapa de triagem, por sua vez, você: (a) seleciona os registros usando um critério mais conservador, isto é, excluindo apenas aqueles que obviamente não atendem aos critérios de elegibilidade; (b) recupera os registros completos, isto é, faz o download dos documentos; e (c) avalia os textos completos, fazendo leitura minuciosa e extraindo os dados relevantes para a revisão. Aqui, você registra as inclusões e exclusões ocorridas em cada subetapa.

Por fim, na etapa de inclusão, é fundamental explicitar o número de estudos selecionados para a síntese qualitativa e, quando aplicável, para a síntese quantitativa. Além disso, garanta que os números obtidos em cada etapa do processo sejam consistentes. Ferramentas como o Microsoft Excel podem ser extremamente úteis para registrar o número de estudos incluídos em cada etapa. Esses dados serão posteriormente utilizados na construção do fluxograma PRISMA, facilitando o acompanhamento das etapas da revisão.

Conclusão

Anteriormente, você aprendeu o que é a declaração PRISMA, quando utilizá-la e como aplicar o fluxograma PRISMA em sua própria revisão sistemática. Vimos que a declaração PRISMA visa melhorar a qualidade do relato de estudos de revisão sistemática e metanalítica.

Outra maneira de melhorar a qualidade dos relatos é melhorando suas habilidades de redação científica. Para ajudá-lo nesse desenvolvimento, a formação da Psicometria Online Academy criou o curso de Escrita Científica de Alto Impacto, que dá dicas fundamentais para uma excelente escrita científica de artigos de alto impacto, com ênfase em pesquisa quantitativa.

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Referências

Haddaway, N. R., Page, M. J., Pritchard, C. C., & McGuinness, L. A. (2022). PRISMA2020: An R package and Shiny app for producing PRISMA 2020-compliant flow diagrams, with interactivity for optimised digital transparency and open synthesis. Campbell Systematic Reviews, 18, Article e1230. https://doi.org/10.1002/cl2.1230

Higgins, J. P. T., & Thomas, J. (Eds.). (2019). Cochrane handbook for systematic reviews of interventions (2nd ed.). The Cochrane Collaboration.

Mohrer, D., Liberati, A., Tetzlaff, J., Altman, D. G., & The PRISMA Group. (2009). Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses: The PRISMA Statement. PLoS Medicine, 6(7), Article e1000097. https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1000097

Page, M. J., McKenzie, J. E., Bossuyt, P. M., Boutron, I., Hoffmann, T. C., Mulrow, C. D., Shamseer, L., Tetzlaff, J. M., Akl, E. A., Brennan, S. E., Chou, R., Glanville, J., Grimshaw, J. M., Hróbjartsson, A., Lalu, M. M., Li, T., Loder, E. W., Mayo-Wilson, E., McDonald, S., … Moher, D. (2021). The PRISMA 2020 Statement: An updated guideline for reporting
systematic reviews. The BMJ, 372, Article n71. https://doi.org/10.1136/bmj.n71

Panic, N., Leoncini, E., Belvis, G., Ricciardi, W., & Boccia, S. (2013). Evaluation of the endorsement of the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA) Statement on the quality of published systematic review and meta-analyses. PLoS ONE, 8(12), Article e83138. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0083138

Como citar este post

Lima, M. (2024, 18 de setembro). Como escrever uma revisão sistemática? A declaração PRISMA. Blog Psicometria Online. https://www.blog.psicometriaonline.com.br/como-escrever-uma-revisao-sistematica-a-declaracao-prisma

Bruno Figueiredo Damásio

Sou Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia. Venho me dedicando à Psicometria desde 2007.

 

Fui professor e chefe do Departamento de Psicometria da UFRJ durante os anos de 2013 a 2020. Fui editor-chefe da revista Trends in Psychology, da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) e Editor-Associado da Spanish Journal of Psychology, na sub-seção Psicometria e Métodos Quantitativos.

 

Tenho mais de 50 artigos publicados e mais de 5000 citações, nas melhores revistas nacionais e internacionais.

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