A Análise Fatorial Exploratória é uma técnica estatística amplamente utilizada na área da psicometria para compreender a estrutura subjacente dos dados observados.
Nesse contexto, aparecem dois conceitos fundamentais são: “comunalidade” e a “singularidade”.
Vamos explorar cada um deles para entende-los conceitualmente e como podem ajudar nas decisões sobre um modelo fatorial exploratório.
O que é comunalidade?
A comunalidade é uma medida que representa a proporção da variância de uma variável observada que pode ser explicada pelas dimensões comuns extraídas da análise fatorial.
Em outras palavras, é a quantidade de variância compartilhada por uma variável com outras variáveis presentes no conjunto de dados.
Quanto mais próxima de 1 for a comunalidade, maior a proporção de variância da variável que é explicada pelos fatores comuns. Assim:
Comunalidade próxima a 0: Indica que a variância da variável não é bem representada pelos fatores comuns extraídos. Isso pode sugerir que a variável tem uma estrutura única e não compartilhada com outros itens ou que não está relacionada aos fatores subjacentes em estudo.
Comunalidade próxima a 1: Indica que a variável é altamente representada pelos fatores comuns. Isso sugere que a variância da variável é em grande parte compartilhada com outras variáveis.
Exemplo
Vamos supor que estamos realizando uma análise fatorial exploratória em um conjunto de dados que contém três variáveis: “Autoestima”, “Confiança” e “Motivação”. Se essas três variáveis estiverem relacionadas por um fator subjacente, digamos “Autoconfiança”, a comunalidade representará a porcentagem de variância de cada variável explicada pelo fator comum “Autoconfiança”.
Pontos de corte usualmente utilizados
Embora os pontos de corte para comunalidades possam variar dependendo do contexto e da natureza dos dados, alguns valores são frequentemente considerados como referência na interpretação:
Valores acima de 0,7: Comunalidades iguais ou maiores que 0,7 indicam que a variância da variável é bem representada pelos fatores comuns. Essas variáveis podem ser interpretadas como altamente representativas da estrutura subjacente em estudo.
Valores entre 0,5 e 0,7: Comunalidades nessa faixa podem ser consideradas moderadas, indicando que a variância das variáveis é em grande parte compartilhada com os fatores comuns. Elas são geralmente aceitas como adequadas para a análise fatorial.
Valores abaixo de 0,5: Comunalidades abaixo de 0,5 indicam que a variância da variável não é bem representada pelos fatores comuns e pode sugerir que a variável possui uma estrutura única e específica. Nesses casos, é importante avaliar a relevância teórica e prática da inclusão da variável na análise.
O que é singularidade?
A singularidade é a parcela da variância de uma variável observada que não pode ser explicada pelas dimensões comuns extraídas pela análise fatorial.
Em outras palavras, é a parte única ou exclusiva da variância que não é compartilhada com outras variáveis.
Exemplos
Continuando com o exemplo anterior, suponha que há uma quarta variável chamada “Ansiedade”. Se a “Ansiedade” não está relacionada com as outras três variáveis (“Autoestima”, “Confiança” e “Motivação”), então a singularidade dessa variável representa a parcela da variância que é exclusiva dela e não pode ser explicada pelo fator “Autoconfiança” compartilhado pelas outras três variáveis.
Pontos de corte usualmente utilizados
Embora os pontos de corte para singularidades também possam variar dependendo do contexto e da natureza dos dados, alguns valores são comumente considerados como referência na interpretação:
Valores abaixo de 0,3: Singularidades menores que 0,3 indicam que a variância da variável é em grande parte compartilhada com os fatores comuns.
Isso sugere que a variável está bem representada pelos fatores extraídos e tem uma contribuição significativa na estrutura geral da AFE.
Valores entre 0,3 e 0,5: Singularidades nessa faixa podem indicar que a variância da variável tem uma proporção moderada de exclusividade.
Nesses casos, é importante avaliar se a singularidade é teoricamente relevante e se a variabilidade única da variável agrega informações importantes à análise.
Valores acima de 0,5: Singularidades acima de 0,5 indicam que a variância da variável é predominantemente singular, sugerindo que a variabilidade exclusiva é alta.
Nesses casos, é essencial avaliar cuidadosamente a relevância e a pertinência da inclusão da variável na análise.
Como a comunalidade e a singularidade podem ajudar nas decisões ao realizar uma análise fatorial exploratória?
A análise desses coeficientes permite uma compreensão mais profunda da relação entre as variáveis e dos fatores subjacentes, contribuindo para uma interpretação robusta dos resultados da AFE.
Vamos explorar como a avaliação da comunalidade e da singularidade dos itens é utilizada nesse contexto.
Comunalidade na análise fatorial exploratória
Como á vimos, a comunalidade é uma medida que representa o grau em que uma variável compartilha sua variância com outros fatores ou variáveis presentes na análise.
Ela indica a proporção de variância de um item que é explicada pelos fatores comuns extraídos na AFE. Durante a análise, os coeficientes de comunalidade são calculados para cada item, e eles variam de 0 a 1.
A avaliação das comunalidades é relevante para:
Identificar variáveis representativas: Variáveis com comunalidades elevadas são altamente representativas dos fatores em comum extraídos na AFE.
Elas indicam que uma grande parte da variância das variáveis é compartilhada com outros itens, sugerindo que medem aspectos similares do construto em estudo
Selecionar itens para a análise: Com base nas comunalidades, é possível verificar quais itens são mais adequadas para representar os fatores comuns.
Itens com comunalidades baixas podem ter pouca relação com os fatores extraídos e possivelmente ao serem excluídos da análise pode-se obter uma estrutura mais clara e significativa.
Singularidade na análise fatorial exploratória
Agora, por outro lado, a singularidade, como abordamos anteriormente, representa a parcela de variância de uma variável que é exclusiva. É a parte específica da variância da variável que não pode ser explicada pelos fatores comuns identificados na análise. Assim como a comunalidade, a singularidade é avaliada para cada variável, variando de 0 a 1.
A avaliação das singularidades é relevante para:
Identificar características únicas: Itens com altas singularidades têm uma variância predominantemente singular, o que sugere que elas medem aspectos específicos e distintos não abrangidos pelos fatores em comum. Essas variáveis podem ser relevantes para compreender dimensões exclusivas do construto em estudo.
Considerar inclusão ou exclusão de variáveis: A análise das singularidades auxilia na decisão de incluir ou excluir itens do instrumento. Itens com altas singularidades podem trazer informações únicas para a análise, mesmo que não compartilhem muita variância com os fatores comuns. Nesses casos, a inclusão ou exclusão do item deve ser fundamentada teoricamente.
Equilíbrio entre comunalidade e singularidade
Na AFE, busca-se um equilíbrio entre comunalidade e singularidade. Ao considerar os valores de comunalidade e singularidade, é importante destacar que os pontos de corte não são regras absolutas, mas sim orientações.
A interpretação adequada da comunalidade e da singularidade requer uma análise cuidadosa do contexto da pesquisa, da teoria subjacente e da relevância prática das variáveis em estudo.
É fundamental considerar que a singularidade não é necessariamente um indicador de má qualidade da variável.
Em muitos casos, variáveis com alta singularidade podem representar características únicas e específicas que são de interesse teórico ou prático, e sua inclusão na análise pode ser justificada com base nesses fundamentos.
Conclusão
Neste post, abordamos os conceitos de comunalidade e singularidade na análise fatorial exploratória. A comunalidade representa a proporção da variância compartilhada com outras variáveis, enquanto a singularidade indica a parcela de variância exclusiva de uma variável.
Ao realizar essa análise, é fundamental considerar tanto a comunalidade quanto a singularidade para tomada de decisões sobre as relações subjacentes entre as variáveis em estudo.
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Como citar este post
França, A. (2023, 30 de julho). Comunalidade vs. singularidade: Entendendo as diferenças. Blog Psicometria Online. https://www.blog.psicometriaonline.com.br/comunalidade-vs-singularidade-entendendo-as-diferencas/
Respostas de 4
Nos resultados dos aplicativos de AF, onde surge esse índice? No caso do Jamovi, é representado na coluna de “Uniqueness”? Essa é uma informação que pode parecer óbvia, mas, para efeito de relatos, acho positivo constar no post.
Olá, George! Muito obrigado por sempre trazer comentários relevantes nos posts. Estamos atualizando os conteúdos dos posts, e suas contribuições certamente serão consideradas durante essas atualizações. No caso da singularidade, ela costuma ser apresentada na tabela contendo as Cargas Fatoriais (Cross Loadings). No JASP e no jamovi, essa informação aparece em uma coluna cujo nome é Uniqueness ou Singularidade, a depender do idioma de configuração da instalação. Vale notar que, para cada item, a somas dos quadrados das cargas fatoriais + singularidade = 1.
Equipe Psicometria Online.
Salve, Marcos.
Você é da UnB? Acho que você me prestou uma consultoria em uma disciplina no PSTO, confere?
Abraços
Sou eu mesmo, George. Confere! Lembro-me de nossas conversas no LASI. Um abraço!
Equipe Psicometria Online.