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Dicas de como melhorar a sua escrita científica

Marcos Lima

ago 27, 2024

A escrita científica é a chave para comunicar de forma clara e precisa os achados de uma pesquisa. Sendo assim, melhorar suas habilidades de escrita é essencial para aumentar a qualidade de seus textos acadêmicos. Neste post, discutiremos o que é escrita científica, suas características e importância. Além disso, compartilharemos 10 dicas práticas de como melhorar a sua escrita científica.

O que é escrita científica?

A escrita científica é o estilo de redação usado por pesquisadores para compartilhar suas descobertas com a comunidade acadêmica. Esse estilo é usado em artigos científicos, teses, dissertações e relatórios de pesquisa.

Diferente de outras formas de escrita, como a literária, a escrita científica exige precisão, clareza e objetividade. Por exemplo, a linguagem utilizada é direta e sem ambiguidades, de modo a garantir que os leitores compreendam exatamente o que foi estudado, como foi feito e quais foram os resultados.

A escrita científica também é marcada pelo uso de citações e referências. De fato, essas referências são essenciais para situar a pesquisa dentro do contexto mais amplo da área de estudo. Além disso, elas ajudam a dar crédito aos trabalhos anteriores que fundamentaram o estudo atual. Para garantir a padronização e facilitar a leitura, o uso de uma norma específica para as referências, como as normas da APA, é uma prática comum.

mulher fazendo anotações enquanto estuda no notebook.

Quais são as principais características de uma boa escrita científica?

Uma boa escrita científica possui consistência lógica ao longo do texto (continuidade) e cadência suave das palavras e sentenças (fluxo). Em outras palavras, um bom texto deve seguir uma linha de raciocínio precisa e sem contradições.

Uma maneira eficaz de melhorar o fluxo do texto é por meio de palavras de transição, que contribuem para conectar sentenças e parágrafos. Por exemplo, uma boa escrita científica faz uso correto de conjunções adversativas (e.g., contudo, mas, porém), conclusivas (e.g., então, logo, portanto) e explicativas (e.g., pois, porque).

Além disso, a boa escrita científica preza pela clareza, evitando jargões desnecessários ou linguagem ambígua. Por exemplo, a construção “70% dos participantes são do sexo feminino” é melhor que construções vagas, como “a maioria dos participantes é do sexo feminino”.

Textos científicos de qualidade também são concisos, isto é, eles possuem frases curtas. A ideia geral é a economia: transmitir o máximo de informações usando a menor quantidade necessária de palavras.

Frases curtas são mais fáceis de serem compreendidas. Frases longas, por sua vez, tendem a onerar os recursos cognitivos dos leitores, causando confusão e necessidade de releitura. Como regra de bolso, se uma frase tiver mais que três linhas em um processador de texto, então ela provavelmente poderá ser reestruturada em frases menores.

Qual é a importância de uma boa escrita científica?

Uma boa escrita científica é crucial para a disseminação eficaz do conhecimento. Quando o texto é claro e bem estruturado, ele permite que outros pesquisadores compreendam e repliquem os estudos, contribuindo para o avanço da ciência. Além disso, um artigo bem escrito aumenta as chances de ser aceito nas melhoras revistas de sua área e de ter um impacto maior na comunidade científica.

mulher tomando notas para escrita de artigo científico.

10 dicas para melhorar a sua escrita científica

Em seguida, apresentaremos uma lista contendo 10 dicas para melhorar a sua escrita científica. Essa não é uma lista exaustiva. Fique atento à última dica, que contribuirá para que você melhore substancialmente a qualidade de seus textos.

1. Remova palavras desnecessárias do texto

Palavras supérfluas tornam o texto mais difícil de ler. Eis alguns exemplos de trechos que contêm palavras desnecessárias, com uma sugestão de reescrita mais simples entre parênteses:

  • “Este artigo fornece uma revisão…” (“Este artigo revisa…”);
  • “Diminuímos a duração da tarefa com o propósito de…” (“Diminuímos a duração da tarefa para…”);
  • “Esse estudo oferece uma confirmação…” (“Esse estudo confirma…”).

Em casos mais extremos, palavras desnecessárias produzem redundância, tais como “resumir brevemente”, “absolutamente essencial” e “completamente unânime”.

Se excluir uma palavra ou expressão não altera o sentido da frase, provavelmente a versão mais curta ficará melhor.

2. Prefira verbos ao invés de substantivos

Na dica anterior, sugerimos que “Esse estudo confirma…” é melhor que “Esse estudo oferece uma confirmação…”. Ao transformar o verbo confirmar em substantivo (confirmação), o texto fica mais lento e exige um verbo adicional.

Por outro lado, verbos tornam um texto mais dinâmico e direto. É mais fácil ler “Para esse fim, analisamos…” do que “Para esse fim, realizamos uma análise…”.

Quando estiver escrevendo seu texto, avalie se é possível transformar palavras como reconhecimento, produção e investigação em suas contrapartes verbais (reconhecer, produzir e investigar, respectivamente). Em geral, isso tornará a leitura mais fluida e sem palavras desnecesárias.

mãos no computador ilustrando a realização de escrita científica.

3. Use construções paralelas em seu texto

Construções paralelas ajudam a organizar as informações e a criar um ritmo agradável na leitura. Por exemplo, ao listar itens, mantenha a mesma estrutura gramatical dos itens da enumeração: “O estudo avaliou a eficácia, a segurança e a aceitação da intervenção X”.

O parágrafo anterior mostrou o que fazer. Agora, veja o que não fazer. Na frase “A pesquisa inclui coletar [infinitivo] dados, análise [substantivo] dos resultados e que se escrevam [subjuntivo] os relatórios”, os termos entre colchetes indicam que a frase não tem paralelismo sintático. Isso seria resolvido se usássemos os verbos analisar e escrever, com as adequações gramaticais necessárias.

Os dois últimos parágrafos discorreram sobre construções paralelas ao nível da sentença. No entanto, você deve utilizar paralelismo na estrutura global de seu texto. Por exemplo, neste post listamos 10 dicas para melhorar a sua escrita científica. Observe que os nomes das subseções contendo essas dicas sempre iniciam com verbos no modo imperativo. Esse uso foi intencional para manter a construção paralela ao longo do texto.

De maneira similar, o paralelismo pode se expressar na ordem em que você apresenta repetidamente determinadas informações ao longo do texto. Por exemplo, se você aplicou os instrumentos de autorrelato A, B e C, nesta ordem, você também deveria apresentá-los nessa sequência nos materiais, nos resultados e na discussão.

4. Dê exemplos concretos

Exemplos concretos ajudam a esclarecer conceitos e a tornar o texto mais acessível. Sempre que possível, ilustre seus pontos com exemplos que sejam relevantes para o leitor. Isso não apenas esclarece o que você está dizendo, mas também prende a atenção do leitor.

Veja como Daniel T. Gilbert e Patrick S. Malone descreveram criativamente o conceito de atribuição em psicologia social (Gilbert & Malone, 1995, p. 21, livre-tradução):

As pessoas se importam menos com o que os outros fazem do que com o motivo pelo qual o fazem. Dois sobrinhos igualmente travessos podem quebrar dois vasos de cristal igualmente caros na casa da Tia Sofia, mas aquele que quebrou o vaso por acidente recebe uma repreensão, enquanto aquele que quebrou de propósito recebe uma punição mais severa. As tias buscam entender o que faz os sobrinhos agirem como agem, e os psicólogos sociais buscam explicar como as tias chegam a essas respostas. As teorias que fornecem essas explicações são conhecidas como teorias da atribuição.

Escolhemos esse exemplo para ilustrar uma escrita elegante, criativa e, ao mesmo tempo, informativa. Evidentemente, você não terá espaço suficiente para fornecer exemplos concretos em todo o texto. No entanto, esse exemplo fornece um modelo insipirador de escrita científica.

5. Explique o significado de seus resultados

Apresentar resultados sem explicá-los pode deixar o leitor confuso. A estatística é uma importante ferramenta analítica, mas é papel do autor conduzir o leitor sobre as interpretações por trás das estatísticas dos testes, coeficientes de regressão, valores ps e medidas de tamanhos de efeito.

Por exemplo, ao conduzir uma análise de variância fatorial mista 2 × 4 × 5, é tentador apresentar uma longa página contendo descrições numéricas entediantes sobre os efeitos principais e de interação do modelo. Mas qual é o significado dessas análises? Como o leitor deve interpretá-lo em termos de processos psicológicos, biológicos, sociais ou econômicos?

Uma estratégia útil é escrever os resultados de modo que os construtos mensurados sejam os protagonistas do parágrafo. Por outro lado, os símbolos estatísticos devem desempenhar um papel coadjuvante, apenas sustentando as afirmações feitas durante a apresentação dos resultados (veja Hayes, 2022, pp. 539–540, para um exemplo).

mulher tomando notas em um caderno para a escrita científica de um texto acadêmico.

6. Evite a voz passiva

A voz ativa é mais direta e envolvente do que a passiva. Na voz ativa, temos a construção sujeito + verbo + objeto. “Eu analisei os dados” está na voz ativa, enquanto que “Os dados foram analisados por mim” está na voz passiva. A voz ativa não só melhora a legibilidade da frase, mas também a torna mais concisa (4 vs. 6 palavras, no exemplo anterior).

Um crença comumente reproduzida no meio acadêmico é que textos objetivos não contêm pronomes pessoais. Infelizmente, faz com que autores iniciantes redijam frases na voz passiva, de modo a fazer desaparecer o eu e o nós do texto. Contudo, tal crença é um mito: a objetividade do texto (i.e., clareza e ausência de ambiguidade) nada tem a ver com a impessoalidade (i.e., ausência de um agente por trás das ideias do texto).

Por fim, ressaltamos uma exceção. A seção de Método costuma ter mais ocorrências de voz passiva. Isso é compreensível e até mesmo apropriado, pois o que foi feito na coleta de dados é mais importante do que quem fez.

7. Evite citações narrativas

Citar consiste em atribuir créditos a ideias que não são suas. Em síntese, existem duas maneiras de citar estudos anteriores. Primeiramente, temos as conhecidas citações narrativas, em que os sobrenomes dos autores são incorporados à narrativa.

Por exemplo, expressões como “Segundo Gilbert e Malone (1995)”, “Gilbert e Malone (1995) afirmam que” e “De acordo com Gilbert e Malone (1995)” ilustram o uso de citações narrativas em textos científicos.

A segunda maneira de citar estudos é por meio de citações parentéticas, onde os sobrenomes dos autores são isolados do texto usando parênteses. Eis um exemplo: “As teorias da atribuição buscam explicar como alguém explica as causas dos comportamentos de outras pessoas (Gilbert & Malone, 1995)”.

Nossa dica é para que você use predominantemente citações parentéticas em seus textos científicos. Observe que, em uma citação parentética, você enfatiza a ideia, ao mesmo tempo em que dá o devido crédito ao autor entre parênteses. Os leitores podem saltar citações parentéticas, o que facilita a leitura.

Por outro lado, a citação narrativa obriga o leitor a ler os nomes dos autores, pois eles estão embutidos no texto. Além disso, na construção “De acordo com Gilbert e Malone (1995)…”, o leitor precisa ler seis palavras completamente irrelevantes antes que ele finalmente chegue ao cerne da frase.

Considerando que seres humanos possuem recursos cognitivos limitados (Kahneman, 1974; Tyler et al., 1979), enfatize suas ideias, não os autores. Foi o que fizemos neste parágrafo. =)

8. Evite abreviações em excesso

Embora abreviações e acrônimos sejam úteis, usá-los em excesso pode tornar o texto confuso. Para decidir se usa ou não abreviações, avalie se: (a) a abreviação é mais familiar aos leitores que a expressão na íntegra; e (b) a economia de espaço justifica os custos de abreviar (American Psychological Association [APA], 2019).

Por exemplo, os leitores provavelmente terão familiariedade com os termos OMS, ONU e UNESCO. A depender de sua área de pesquisa, podem existir outras expressões já bem conhecidas, como TDAH, para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. No entanto, se você quer escrever para uma audiência mais ampla, talvez seja o caso de evitar até mesmo as abreviações comuns dentro de sua área, mas que são desconhecidas fora de sua disciplina.

Esteja atento ao fato de que o excesso de abreviações atrapalha a leitura mesmo entre experts. Considere a frase: “O GE apresentou menores TR; o GC, por sua vez, teve elevadas taxas de FP e de FN”. A frase fica muito mais fluida sem abreviações: “O grupo experimental apresentou menores tempos de reação; o grupo controle, por sua vez, teve elevadas taxas de falsos positivos e de falsos negativos” (adaptado da APA, 2019).

9. Revise seu texto continuamente

Ao realizar um vestibular, você recebe uma proposta de redação, que deve ser pensada, estruturada e redigida em poucas horas. Em contrapartida, a escrita científica deve ser um empreendimento de longo prazo. Em outras palavras, você deve escrever um pouco a cada dia e revisar seu texto continuamente.

Quando você retorna ao seu texto depois de ter se afastado dele por algum tempo, seu olhar para o texto é diferente. Isso contribui para que você identifique erros de digitação, bem como trechos ambíguos ou que precisam ser melhorados. Além disso, esse afastamento do texto, se acompanhado de leituras de artigos de sua disciplina, pode te trazer novas ideias para o texto em desenvolvimento.

Você também pode convidar colegas para ler e avaliar seu texto. As opiniões deles, indicando pontos confusos, fornece insights sobre revisões adicionais necessárias em seu manuscrito.

10. Faça um bom curso de escrita científica

Durante a vida escolar, treinamos a nossa escrita em incontáveis oportunidades. Embora essa prática contínua seja importante, ela tem um efeito adverso: podemos acreditar que os conhecimentos da escrita escolar (i.e., textos narrativos e dissertativos) são automaticamente transpostos para a escrita científica.

Infelizmente, isso não é verdade. A escrita científica, conforme já discutimos, possui características específicas que você precisa conhecer. Sendo assim, o treino formal no desenvolvimento de habilidades para a escrita científica é útil para dominar esse estilo de redação. Isso pode ser feito por meio de um bom curso sobre o tema.

Pensando nisso, a formação da Psicometria Online Academy desenvolveu o curso de Escrita Científica de Alto Impacto, que dá dicas fundamentais para uma excelente escrita científica de artigos de alto impacto, com ênfase em pesquisa quantitativa.

Se você quer aprender sobre esse conteúdo, então comece hoje mesmo o curso de Escrita Científica de Alto Impacto e melhore substancialmente a qualidade de seus textos científicos.

Referências

American Psychological Association. (2019). Publication manual of the American Psychological Association (7th ed.).

Gilbert, D. T., & Malone, P. S. (1995). The correspondence bias. Psychological Bulletin, 117(1), 21–38. https://doi.org/10.1037/0033-2909.117.1.21 

Hayes, A. F. (2022). Introduction to mediation, moderation, and conditional process analysis: A regression-based approach (3rd ed.). The Guilford Press.

Kahneman, D. (1973). Attention and effort. Prentice Hall.

Roediger, H. L., III. (2007, 1 de junho). Twelve tips for authors. APS Observer. https://www.psychologicalscience.org/observer/twelve-tips-for-authors

Tyler, S. W., Hertel, P. T., McCallum, M. C., & Ellis, H. C. (1979). Cognitive effort and memory. Journal of Experimental Psychology: Human Learning and Memory, 5(6), 607–617. https://doi.org/10.1037/0278-7393.5.6.607

Como citar este post

Lima, M. (2024, 27 de agosto). Dicas de como melhorar a sua escrita científica. Blog Psicometria Online. https://www.blog.psicometriaonline.com.br/dicas-de-como-melhorar-a-sua-escrita-cientifica

Bruno Figueiredo Damásio

Sou Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia. Venho me dedicando à Psicometria desde 2007.

 

Fui professor e chefe do Departamento de Psicometria da UFRJ durante os anos de 2013 a 2020. Fui editor-chefe da revista Trends in Psychology, da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) e Editor-Associado da Spanish Journal of Psychology, na sub-seção Psicometria e Métodos Quantitativos.

 

Tenho mais de 50 artigos publicados e mais de 5000 citações, nas melhores revistas nacionais e internacionais.

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