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Planejamento do projeto de pesquisa: dicas essenciais para um estudo bem-sucedido

Marcos Lima

nov 8, 2022

O planejamento do projeto de pesquisa é uma etapa fundamental da produção de conhecimento científico, pois ele tem implicações na qualidade dos dados e, consequentemente, na validade das conclusões. Neste post, apresentaremos dicas essenciais para um estudo bem-sucedido. Essas dicas, portanto, visam te ajudar a conduzir pesquisas de elevada qualidade metodológica, com resultados que contribuam substancialmente para sua área de pesquisa.

Por que o planejamento do projeto de pesquisa é importante?

O planejamento do projeto de pesquisa desempenha um papel central em todo processo investigativo. Decisões tomadas durante essa etapa inicial afetam não apenas a coleta e a análise dos dados, mas também a interpretação dos resultados. Sem um planejamento adequado, o pesquisador corre o risco de comprometer a interpretabilidade dos achados e as inferências possíveis.

Por exemplo, considere um cenário extremo. Pesquisadores pretendem estudar o desenvolvimento cognitivo de crianças, mas o fazem conduzindo um estudo de corte transversal, isto é, com coleta de dados em um único momento. Nesse caso, nenhuma técnica estatística, por mais sofisticada que seja, será capaz de permitir inferências válidas sobre mudanças na cognição das crianças, pois os dados não permitem estimar trajetórias individuais.

Desse modo, é importante que haja uma estreita relação entre os objetivos almejados do projeto de pesquisa e o delineamento usado para atingi-lo. Em seguida, veremos algumas dicas de como melhorar o planejamento do projeto de pesquisa.

Como iniciar o planejamento do projeto de pesquisa?

Antes de mais nada, familiarize-se com a literatura de sua área de interesse. Ler textos científicos relevantes oferece uma base sólida para formular hipóteses e delinear os métodos. Além disso, é importante se engajar nas seguintes tarefas:

  • Revisão de literatura: identifique lacunas no conhecimento atual;
  • Formulação de hipóteses: estabeleça perguntas de pesquisa claras;
  • Escolha do método de estudo: decida entre experimentos, surveys ou estudos observacionais.

Quanto à revisão de literatura, recomendamos consultar os periódicos denominados Annual Reviews, pois eles contêm revisões abrangentes sobre diferentes temas de pesquisa, mostrando o estado da arte da literatura até o momento de sua publicação.

Quanto à formulação de hipóteses, pesquisadores devem ter uma pergunta norteadora de pesquisa que seja exequível de ser respondida com os recursos (e.g., humanos, financeiros e de tempo) disponíveis. O acrônimo FINER (FeasibleInterestingNovelEthical e Relevant) é um critério útil para avaliar a viabilidade do tema de interesse.

Saiba mais: Dicas para elaboração da pergunta norteadora de pesquisa

planejamento do projeto de pesquisa e pergunta norteadora do projeto.

Escolhendo o melhor delineamento de pesquisa

Uma vez que pesquisadores tenham realizado a revisão literatura e decidido os objetivos do projeto, é preciso delinear o método do projeto de pesquisa. Como vimos anteriormente, decidir qual delineamento de pesquisa usar depende da questão investigada. Aqui estão algumas orientações:

  • Projeto experimental: permite controlar variáveis e testar relações causais. Reflita cuidadosamente sobre a escolha entre um projeto entre grupos, isto é, com diferentes participantes por condição, ou de medidas repetidas, ou seja, com os mesmos participantes em todas as condições;
  • Pesquisa de levantamento: ideal para coleta de dados em larga escala, pois instrumentos de autorrelato podem ser respondidos on-line, por meio de envio de links aos participantes. Certifique-se de testar os instrumentos previamente, de modo a identificar se eles são adequados aos objetivos da pesquisa;
  • Estudo observacional: em alguns casos, os participantes não estão aptos a responder instrumentos de autorrelato (e.g., crianças não verbalizadas). Desse modo, pode ser interessante amostrar diretamente os comportamentos de interesse. Por exemplo, estudos diádicos podem investigar as interações cuidador–bebê, visando identificar instâncias de atenção conjunta nessas interações, e se elas são preditoras de variáveis desenvolvimentais importantes (e.g., vocabulário da criança).

Dica importante: avalie se o uso de um grupo de controle é necessário. Estudos sem esse grupo podem limitar as conclusões possíveis, pois não podemos descartar uma série de ameaças à validade interna dos achados.

Como definir os participantes durante o planejamento do projeto de pesquisa?

A definição de quais participantes serão selecionados é uma etapa crítica no planejamento do projeto de pesquisa. Tipicamente, estudos em ciências comportamentais recrutam estudantes universitários, por meio de amostras por conveniência. Contudo, essa estratégia pode ter limitações em termos de validade externa dos achados.

Desse modo, fornecemos algumas recomendações a seguir:

  • Preveja desistências: convide mais pessoas do que o necessário, especialmente em estudos com seres humanos;
  • Distribua grupos de maneira equilibrada: grupos desiguais dificultam a detecção de diferenças estatisticamente significativas. Além disso, algumas quebras de pressupostos estatísticos, como a homogeneidade de variâncias, é mais grave em casos em que os tamanhos dos grupos são desiguais;
  • Calcule o tamanho da amostra: determine o número mínimo de participantes para detectar o efeito hipotetizado, por exemplo, usando o software gratuito G*Power.

Veja também: Como fazer o cálculo de tamanho amostral no G*Power?

planejamento do projeto de pesquisa e cálculo de tamanho amostral.

Escolhendo as variáveis e instrumentos

A escolha das variáveis incluídas em um estudo é fundamental, pois estão no cerne das relações que serão objetos de investigação pela equipe de pesquisa. No entanto, tenha em mente que, em certas ocasiões, é preciso incluir variáveis que não são objeto primário de interesse de sua pesquisa.

Por exemplo, suponha que queremos investigar se o consumo de vegetais é um fator protetivo contra a obesidade infantil. No entanto, também é relevante quantificarmos o nível de atividade física das crianças, pois essa variável também pode ser um fator protetivo relevante. Desse modo, quantificar a atividade física nos permitirá avaliar se o consumo de vegetais é um fator protetivo contra a obesidade infantil para além da atividade física.

Algumas dicas adicionais podem orientar a escolha das variáveis e instrumentos:

  • Certifique-se de que as variáveis são relevantes para o fenômeno de interesse;
  • Avalie as propriedades psicométricas dos instrumentos, isto é, suas evidências de validade e de fidedignidade prévias;
  • Considere incluir múltiplas medidas para aumentar a sensibilidade dos dados;
  • Avalie se a duração das tarefas não será longa o suficiente para inserir efeitos de fadiga e de tédio nos respondentes. Caso a bateria de tarefas seja relativamente longa, considere dividi-las em mais de uma sessão;
  • Avalie qual é a melhor ordem de administração dos instrumentos na pesquisa.

Desenvolvimento e adaptação de instrumentos e testes-piloto

Se você optar por desenvolver ou adaptar instrumentos de autorrelato, nunca pule etapas, pois elas ajudam a identificar:

  • Itens confusos ou mal formulados;
  • Possíveis reações negativas ou ofensivas dos respondentes;
  • A clareza das instruções e das escalas utilizadas.

Além disso, lembre-se de que o teste-piloto deve ser realizado com uma amostra representativa do público-alvo, pois é para esse público que a linguagem e as características do instrumento devem se adequar.

Conclusão

Neste post, apresentamos dicas essenciais para planejar um estudo bem-sucedido. A qualidade dos dados depende diretamente de um planejamento do projeto de pesquisa bem executado. Dados inconsistentes ou mal coletados podem gerar dificuldades na análise e comprometer os resultados. Assim, investir tempo no planejamento inicial reduz dores de cabeça no futuro.

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Referências

Cozby, P. C., & Bates, S. C. (2018). Methods in behavioral research (13th ed.). McGraw-Hill Education.

Como citar este post

Lima, M. (2022, 8 de novembro). Dicas para o planejamento do projeto de pesquisa. Blog Psicometria Online. https://www.blog.psicometriaonline.com.br/dicas-para-o-planejamento-do-projeto-de-pesquisa/

Bruno Figueiredo Damásio

Sou Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia. Venho me dedicando à Psicometria desde 2007.

Fui professor e chefe do Departamento de Psicometria da UFRJ durante os anos de 2013 a 2020. Fui editor-chefe da revista Trends in Psychology, da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) e Editor-Associado da Spanish Journal of Psychology, na sub-seção Psicometria e Métodos Quantitativos.

Tenho mais de 50 artigos publicados e mais de 5000 citações, nas melhores revistas nacionais e internacionais.

Em 2020, saí da UFRJ para montar a minha formação, a Psicometria Online Academy.

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