Estudos de revisão sistemática: o uso da estratégia PICO

A estratégia PICO é fundamental para a formulação de perguntas de pesquisa precisas e relevantes em estudos de revisão sistemática. Neste post, você entenderá como utilizar essa ferramenta para aprimorar a qualidade e a clareza das suas revisões, garantindo assim resultados mais confiáveis e robustos.

O que significa o acrônimo PICO?

A escolha dos descritores na busca, dos critérios de inclusão e de exclusão, bem como a extração dos dados são algumas das etapas de uma revisão sistemática da literatura. No entanto, antes precisamos ter clareza de qual pergunta de pesquisa nossa revisão sistemática visa responder.

Nesse sentido, a estratégia PICO ajuda a formular perguntas de pesquisa precisas e relevantes para estudos de revisão sistemática. Em síntese, o acrônimo PICO fornece uma mnemônica para os quatro elementos que deveriam estar presentes em perguntas de pesquisa de revisões de literatura.

A Figura 1 apresenta os elementos desse acrônimo, com um exemplo de como cada elemento poderia ser operacionalizado.

Como pode ser visto na Figura 1, a letra P identifica o grupo de pessoas de interesse. Por exemplo, uma revisão pode ter como população de interesse as pessoas com transtorno de ansiedade social.

A letra I, por sua vez, refere-se à intervenção sob investigação. Supondo que o objetivo seja reduzir a ansiedade social da população-alvo, uma possível intervenção seria a terapia de exposição. Note que, no lugar de intervenção, podemos considerar exposição, em caso de estudos observacionais, isto é, naqueles em que não há manipulação experimental.

Já a letra C representa a comparação, isto é, a condição controle contra a qual será comparada a nossa intervenção de interesse. Ela pode incluir outra intervenção, como a terapia cognitivo-comportamental, ou uma lista de espera por tratamento.

Por fim, a letra O representa o desfecho (do inglês, outcome). Sinônimo de variável dependente ou de resultado, o termo desfecho é mais comumente usado nas pesquisas da área de saúde. Em síntese, desfecho é a variável (ou as variáveis) que queremos avaliar se sofre(m) efeitos da intervenção, comparada à condição controle.

Como formular uma pergunta de pesquisa com base na estratégia PICO?

Para formular uma pergunta de pesquisa com base na estratégia PICO, siga os seguintes passos:

1. Identifique o paciente ou população: comece identificando o grupo de pessoas que você deseja estudar, seja uma doença específica, idade, gênero, entre outros;
2. Identifique a intervenção: em seguida, identifique o tratamento ou intervenção que você deseja estudar. Isso pode incluir medicamentos, terapias, intervenções cirúrgicas, entre outros;
3. Identifique a comparação: posteriormente, identifique o grupo de comparação, seja outra intervenção ou um grupo controle. Isso ajuda a avaliar o efeito da intervenção em questão;
4. Identifique o desfecho: identifique o que você deseja medir ou avaliar, seja melhora na saúde, diminuição de sintomas, reações adversas, entre outros;
5. Formule a pergunta: por fim, com base nas informações levantadas, formule a pergunta de pesquisa.

Por exemplo, considerando o exemplo da Figura 1, identificamos os quatro elementos de nosso interesse. Nesse sentido, a pergunta de pesquisa poderia ser formulada mais ou menos da seguinte maneira: “A terapia de exposição, comparada à terapia cognitivo-comportamental, reduz os sintomas de ansiedade social em pacientes com transtorno de ansiedade social?”

Veja também: Um guia completo sobre a PEDro: Physiotherapy Evidence Database

Exemplo de aplicação da estratégia PICO

Anteriormente, apresentamos os elementos do acrônimo PICO e concluímos com a apresentação da pergunta de pesquisa. Nesta seção, inverteremos a ordem das tarefas. Primeiramente, apresentaremos a pergunta de pesquisa e buscaremos identificar os componentes da estratégia PICO nessa pergunta.

Por exemplo: “a administração de cloridrato de sertralina, comparada a um placebo, reduz os escores de depressão de pacientes com diagnóstico de transtorno depressivo maior moderado a severo?”

Nesta pergunta, a população é identificada como “pacientes com diagnóstico de transtorno depressivo maior moderado a severo”; a intervenção é “administração de cloridrato de sertralina”; a comparação é “administração de placebo”; e o desfecho se refere aos “escores de depressão” (Figura 2).

Com esta pergunta, a revisão sistemática pode se concentrar nos estudos que comparam a administração de sertralina com um placebo. Em alguns casos, a estratégia PICO inclui mais uma letra no acrônimo, isto é, a letra S, de tipo de estudo (study type, em inglês). Desse modo, tomando o último exemplo como referência, o S se refere a ensaios clínicos randomizados, que seria o tipo de delineamento mais adequado para investigar os efeitos da sertralina sobre os escores de depressão.

Lembre-se de que a pergunta deve ser específica, clara e relevante para o estudo. A estratégia PICO é uma ferramenta valiosa para garantir que a pergunta de pesquisa seja precisa, contribuindo assim para uma revisão sistemática abrangente e transparente.

Alternativas à estratégia PICO

Você pode se deparar com a situação em que o acrônimo PICO não se ajusta ao seu interesse de pesquisa. Felizmente, existem adaptações desse acrônimo a outras perguntas de pesquisa que podem ser de interesse daqueles interessados em revisar a liteartura sobre um tema.

A Figura 3 apresenta os acrônimos PICo, PICOT, PCC e POT, para pesquisas qualitativas, ensaios clínicos, revisões de escopo e estudos de frequência, respectivamente. Para uma descrição detalhada dessas alternativas, veja Araújo (2020).

Conclusão

Neste post, explicamos o que é o acrônimo PICO e como ele pode ser usado como uma estratégia útil para a elaboração da pergunta de pesquisa em revisões sistemáticas. Além disso, descrevemos dois exemplos de implementação da estratégia PICO. Por fim, apresentamos alguns acrônimos específicos para diferentes tipos de revisões de literatura.

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Referências

Araújo, W. C. O. (2020). Recuperação da informação em saúde: Construção, modelos e estratégias. ConCI, Convergências em Ciência da Informação, 3(2), 100–134. https://doi.org/10.33467/conci.v3i2.13447

Galvão, T. F., & Pereira, M. G. (2014). Revisões sistemáticas da literatura: Passos para sua elaboração. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 23(1), 183–184. https://doi.org/10.5123/S1679-49742014000100018

Como citar este post

Lima, M. (2023, 23 de janeiro). Estudos de revisão sistemática: O uso da estratégia PICO. Blog Psicometria Online. https://www.blog.psicometriaonline.com.br/estudos-de-revisao-sistematica-o-uso-da-estrategia-pico/