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O que é e como funciona a revisão por pares (peer review)?

Marcos Lima

ago 22, 2024

Você escreve um relato conciso, claro e coeso descrevendo os achados de sua pesquisa. Além disso, você capricha na revisão gramatical e na adequação do trabalho às normas técnicas (e.g., ABNT, APA). Agora é hora de submeter seu texto a uma revista científica para que ele passe pelo processo de revisão por pares (peer review).

Infelizmente, o processo de revisão por pares é um assunto pouco tratado durante a graduação. Desse modo, muitos estudantes se formam sem saber do que se trata esse processo ou, pior ainda, descobrem o que é apenas quando precisam enfrentá-lo na prática.

O objetivo deste post é explicar o que é e como funciona a revisão por pares. Além disso, apresentaremos as principais etapas desse processo, descreveremos os possíveis pareceres que seu texto pode receber e definiremos alguns termos importantes relacionados a essa revisão. Por fim, daremos uma dica fundamental para aumentar as chances de você se sair bem no processo de revisão por pares.

O que é um artigo científico?

Um artigo científico é um texto técnico que descreve os resultados de uma pesquisa original. Diferentes artigos podem enfatizar aspectos distintos do empreendimento científico. Por exemplo, artigos podem descrever os resultados de estudos empíricos, revisar a literatura de uma área, discutir criticamente teorias sobre um fenômeno ou propor inovações metodológicas e analíticas.

Em geral, pesquisadores escrevem artigos científicos com base em dados coletados e analisados de forma sistemática. Além disso, a clareza, precisão e objetividade são essenciais. Por isso, os artigos passam por uma revisão minuciosa antes de serem aceitos para publicação. Em seguida, discutiremos um pouco mais esse último ponto.

Aprofunde-se no tema: O que é um artigo científico?

O que é revisão por pares (peer review)?

No contexto das publicações científicas, a revisão por pares é um processo de avaliação em que especialistas da área de estudo analisam um texto científico submetido para publicação. O objetivo desse processo é garantir a qualidade, a validade e a relevância da pesquisa apresentada.

Desse modo, os pares consistem em colegas de área, pesquisadores especialistas no tema do texto submetido à revista científica. Nesse processo, chamamos esses especialistas de revisores (reviewers), pareceristas ou juízes (referees). Independentemente do termo utilizado, o papel deles é fazer uma apreciação crítica do texto científico.

Por exemplo, suponha que um autor submeta a uma revista um texto sobre distúrbios do sono em idosos. Um dos revisores poderia ser um expert em distúrbios do sono, enquanto outro poderia ser um expert em envelhecimento (eventualmente, os revisores poderiam ter expertise em ambos os temas).

Os revisores avaliam o texto quanto ao seu mérito científico, relevância da pergunta de pesquisa, adequação dos métodos utilizados para responder à pergunta de pesquisa e clareza da exposição dos argumentos, para citar alguns itens.

Desse modo, a revisão funciona como uma curadoria, que visa garantir que as pesquisas publicadas em revistas científicas atendam aos mais rigorosos padrões científicos. Contudo, a ciência é uma atividade humana e, por isso, sujeita a falhas. O mesmo se aplica à revisão por pares e às publicações em si. Lembre-se: nem tudo o que está publicado atinge elevados critérios de qualidade.

o que é a revisão por pares?

Como funciona o processo de revisão por pares?

Visão geral do processo de revisão por pares

O processo de revisão por pares geralmente começa com o envio do artigo a uma revista científica. O editor da revista faz uma triagem inicial para verificar se o artigo está dentro do escopo da revista. Se o texto passa dessa etapa preliminar, então o editor convida alguns especialistas para avaliar criticamente o texto.

Os revisores oferecem feedback sobre o texto, destacando seus pontos fortes e fracos. Com base nas recomendações dos revisores, o editor decide se o artigo será aceito, rejeitado ou se precisará de revisões adicionais.

Quais são as etapas do processo de revisão por pares?

O processo de revisão por pares se divide em várias etapas:

  1. Triagem inicial: o editor e os secretários da revista verificam se o texto está no escopo da revista e se atende aos requisitos básicos da revista (e.g., normas de formatação, limites de páginas);
  2. Seleção dos revisores: o editor convida revisores que sejam especialistas no tema do texto para avaliá-lo. Em geral, dois a três revisores avaliam um texto;
  3. Avaliação pelos revisores: os revisores analisam o texto e fornecem um parecer detalhado e uma recomendação (veja a próxima seção). Os revisores não têm contato uns com os outros, de modo que cada parecer é dado de forma independente dos demais;
  4. Decisão editorial: com base nos feedbacks dos revisores, o editor toma uma decisão sobre o destino do manuscrito. Se o editor decidir que novas etapas de revisão são necessárias, ele convidará os autores para ressubmeter o texto após modificações. Os autores terão acesso aos comentários detalhados feitos pelos revisores para orientar seu trabalho;
  5. Revisão pelos autores: os autores revisam e ressubmetem o texto, juntamente com um arquivo detalhadando as revisões feitas e respondendo aos comentários dos revisores.

Se a decisão editorial for por rejeição, a etapa 5 nem acontece. No entanto, se a decisão editorial for por novas etapas de revisão, as etapas de 1 a 5 podem ocorrer repetidamente, até que ocorra uma decisão editorial por rejeitar ou por publicar o texto (a revisão pode ser interrompida também se os autores decidirem por não ressubmeter o texto).

Quais são as possíveis recomendações que os revisores podem dar?

Em geral, os revisores que avaliam um texto científico fazem uma das quatro recomendações a seguir:

  • Aceitar (accept): o artigo atingiu os padrões científicos de qualidade e está apto a ser publicado. No entanto, ele ainda passará por uma etapa de produção, onde poderá sofrer pequenas modificações. Não falaremos sobre a etapa de produção neste post;
  • Revisão menor (minor review): o artigo precisa de pequenas correções, como ajustes na redação ou esclarecimentos;
  • Revisão maior (major review): o artigo requer mudanças substanciais, como revisões na seção de métodos ou análises adicionais incluindo covariáveis nos modelos estatísticos;
  • Rejeitar (reject): o artigo não atende aos padrões da revista e, portanto, não deve ser publicado.

No entanto, vale lembrar que os revisores dão apenas um parecer técnico ao editor da revista científica. A decisão final, portanto, cabe ao editor.

Por exemplo, diferentes revisores podem dar pareceres discrepantes para o mesmo texto. Embora seja improvável que um revisor recomende rejeição e o outro, aceitação, é possível que um deles recomende revisão menor, enquanto o outro recomenda revisão maior.

As razões para essa discordância são múltiplas. Primeiramente, como já dissemos, o processo de revisão por pares é uma atividade humana, suscetível a vieses. É possível, por exemplo, que um revisor com expertise em psicometria tenha questionamentos metodológicos importantes nessa parte do texto. Se o outro revisor não é expert em psicometria, então ele pode deixar de fazer considerações no que tange às decisões analíticas dos autores.

Cabe aos autores tentar responder aos questionamentos de todos os revisores, de modo que seu texto científico atinja uma qualidade técnica que leve à recomendação unânime de publicação. Todavia, mesmo que não haja consenso, o editor tem o poder de dar o voto de desempate e decidir por aceitar ou rejeitar um artigo.

possíveis decisões da revisão por pares.

Termos do processo de revisão por pares que você precisa conhecer

Há uma série de termos usados no processo de revisão por pares. Um vocabulário novo e desconhecido pode intimidar novos autores. A seguir, explicaremos os principais termos que você precisa conhecer.

O que é revisão duplo-cego (double-blind review)?

A revisão duplo-cego (double-blind review) é uma modalidade de revisão que tanto os autores quanto os revisores permanecem anônimos. Em outras palavras, o editor da revista atua como uma ponte entre autores e revisores, sem revelar as identidades das partes envolvidas em cada ponta do processo.

Essa é a forma de revisão mais comumente adotada em revistas científicas. Trata-se de um mecanismo para evitar que vieses das partes interessadas afetem a lisura do processo. Por exemplo, se revisores e autores têm uma amizade ou inimizade prévia, isso poderia influenciar indevidamente a realização do parecer.

revisão por pares no estilo duplo cego.

O que é carta de apresentação (cover letter)?

A carta de apresentação (cover letter) é um documento que autores anexam junto ao texto científico no momento da submissão (e das ressubmissões) junto à plataforma da revista científica. Ela tem como destinatário o editor da revista.

O principal objetivo da carta de apresentação é que os autores destaquem para o editor quais foram os principais achados da pesquisa e de que maneira ela contribuirá com a literatura da área. Além disso, os autores podem indicar brevemente como julgam que aquele estudo terá impacto positivo junto aos leitores da revista.

Quando os autores fazem a ressubmissão do texto após uma rodada de revisão, também se anexa uma carta de apresentação. Nela os autores sumarizam que responderam aos questionamentos dos revisores e, se necessário, informam se não acataram determinadas solicitações dos revisores, bem como os motivos para tal decisão.

O que é resposta aos revisores (response to reviewers)?

A resposta aos revisores (response to reviewers ou response-to-reviewers file) é um documento que os autores anexam junto ao texto científico a partir da segunda rodada de revisão. Nesse documento, os autores respondem a cada um dos comentários feitos pelos revisores.

Em suas respostas, os autores explicarão educamente de que maneira abordaram a cada um dos questionamentos e sugestões que os revisores fizeram. Os autores não são obrigados a acatar todas as sugestões feitas pelos revisores. No entanto, espera-se que eles justifiquem os motivos para não acatarem uma sugestão, quando optarem por esse curso de ação.

arquivo de respostas ressubmetido na revisão por pares.

O que é rodada de revisão (round)?

As recomendações que os revisores dão para um texto podem levar o editor a convidar os autores para uma nova submissão do texto. Quando as etapas do processo de revisão por pares se reinicia, dizemos que houve uma nova rodada de revisão (round) .

Embora um texto possa ser aceito para publicação já na primeira rodada, o mais provável é que ele leve duas ou mais rodadas de revisão até que ocorra um parecer de aceite definitivo. Nas rodadas subsequentes, os mesmos revisores ou revisores distintos poderão avaliar a nova versão do texto.

O que é desk reject?

Desk reject é um termo que descreve a rejeição de um texto por um editor sem que esse texto chegue a passar por uma revisão por pares. Em outras palavras, isso ocorre quando a rejeição ainda se dá “na mesa” do editor, sem passar pelo processo completo de avaliação científica.

Existem diferentes motivos para o desk reject, que inclui texto com formatação inadequada, de pouca relevância ou com tema que não está no escopo da revista. Por exemplo, submeter um texto que investiga evidências de validade de um instrumento de autorrelato em uma revista com foco em pesquisas qualitativas possivelmente levaria a um desk reject.

Os principais antídotos contra o desk reject incluem produzir uma pesquisa relevante, preparar cuidadosamente o seu texto científico e escolher uma revista que se ajuste ao tema sob investigação.

Como melhorar a escrita de artigos científicos?

Neste texto, descrevemos o que é a revisão por pares. Para se sair bem nesse processo, é fundamental que você comunique seus achados usando linguagem clara e objetiva.

Pensando nisso, a formação da Psicometria Online Academy desenvolveu o curso de Escrita Científica de Alto Impacto, que dá dicas fundamentais para uma excelente escrita científica de artigos de alto impacto, com ênfase em pesquisa quantitativa. O curso se divide em 7 módulos.

  • Módulo 1 – Estruturando uma pesquisa relevante: sua pesquisa não deve ser mais do mesmo. Estruture um estudo de alto nível, que tem o potencial de avançar o estado da arte na sua área;
  • Módulo 2 – A estrutura da fundamentação teórica: aprenda a estrutura de organização da fundamentação teórica que tornará evidente a relevância da sua pesquisa;
  • Módulo 3 – A estrutura da escrita científica: entenda as principais características da escrita científica enquanto gênero textual, que tem suas próprias regras a serem seguidas;
  • Módulo 4 – Os principais erros da escrita: evite os principais erros gramaticais e estilísticos da escrita científica, tornando assim seu texto muito mais profissional;
  • Módulo 5 – A estrutura do método: aprenda a estruturar o método de um jeito impecável, sem deixar lacunas para questionamentos e críticas de revisores e bancas;
  • Módulo 6 – Resultados, discussão e conclusão: aprenda a problematizar os resultados e a discussão dos seus achados, elaborando com enorme profundidade e qualidade técnica cada uma dessas seções;
  • Módulo 7 – O processo da publicação científica: aprenda com quem já foi editor de revistas nacionais e internacionais (Qualis A) tudo que se passa internamente nas revisas científicas, para que você tenha muito mais chance de publicação.

Se você quer aprender sobre esse conteúdo, então comece hoje mesmo o curso de Escrita Científica de Alto Impacto e melhore substancialmente a qualidade de seus textos científicos.

Como citar este post

Lima, M. (2024, 22 de agosto). O que é e como funciona a revisão por pares (peew review)? Blog Psicometria Online. https://www.blog.psicometriaonline.com.br/o-que-e-e-como-funciona-a-revisao-por-pares-peer-review

Bruno Figueiredo Damásio

Sou Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia. Venho me dedicando à Psicometria desde 2007.

 

Fui professor e chefe do Departamento de Psicometria da UFRJ durante os anos de 2013 a 2020. Fui editor-chefe da revista Trends in Psychology, da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) e Editor-Associado da Spanish Journal of Psychology, na sub-seção Psicometria e Métodos Quantitativos.

 

Tenho mais de 50 artigos publicados e mais de 5000 citações, nas melhores revistas nacionais e internacionais.

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