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O que é um artigo científico?

Marcos Lima

ago 18, 2024

Ao ingressar no ensino superior, estudantes se deparam com a necessidade de ler e de escrever artigos científicos. Mas o que é um artigo científico? Para que ele serve? Quais são suas principais características? E qual é a estrutura de um artigo científico? Neste post, buscaremos responder a cada uma dessas questões. Além disso, no final do post, daremos uma dica imperdível de como melhorar a escrita do seu artigo científico.

O que é um artigo científico?

A ciência consiste em uma atividade coletiva, cujo objetivo final é produzir conhecimento verificável e publicamente disponível. Um investigador que realiza pesquisas isoladamente no quintal de sua casa, mas que não dá publicidade às suas descobertas, não contribui para a ciência.

Desse modo, para que o conhecimento oriundo de pesquisas se torne público, ele precisa ser disseminado. A principal maneira pela qual a comunidade científica decidiu dar publicidade a novos estudos é por meio de artigos científicos.

Um artigo científico é um gênero textual, de caráter técnico-científico, que descreve estudos empíricos, revisões de literatura ou teorizações sobre um dado tema. É a partir da publicação de um artigo científico que os resultados da pesquisa – empírica, de revisão ou teórica – chegam ao conhecimento de outros pesquisadores ao redor do mundo.

pilhas de papeis ilustrando textos acadêmicos.

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Para que serve um artigo científico?

A principal função de um artigo científico é comunicativa, isto é, ele visa expor os resultados de uma pesquisa para a comunidade científica. Ele permite que outros pesquisadores conheçam e avaliem o trabalho realizado, promovendo a troca de ideias e a construção de novos conhecimentos.

No dia a dia, é comum que alguém diga “eu li um artigo”, referindo-se a textos jornalísticos. Enquanto um artigo jornalístico se destina ao público em geral e aborda temas variados de maneira acessível, um artigo científico foca em uma análise aprofundada de um tema específico, sendo voltado à comunidade acadêmica.

Além disso, um artigo científico difere de um artigo acadêmico, como um ensaio ou uma resenha para uma disciplina de graduação. Enquanto artigos acadêmicos visam avaliar e formar estudantes do ensino superior, apenas os artigos científicos passam por um rigoroso processo de curadoria antes de serem aceitos para publicação em revistas científicas.

Tecnicamente, um artigo científico, enquanto ainda não foi publicado, é um manuscrito ou compuscrito. Esse manuscrito é submetido a uma revisão por pares, onde experts avaliam a qualidade metodológica, analítica, lógica e argumentativa do texto, bem como sua relevância científica à comunidade acadêmica. É apenas após essa curadoria que o manuscrito é aceito e publicado, sendo oficialmente considerado um artigo científico.

ilustração de alguém escrevendo um artigo científico.

Quais são as principais características de um artigo científico?

Os artigos científicos possuem características distintas de outros gêneros textuais. Primeiramente, a linguagem utilizada em um artigo é técnica e objetiva, com o propósito de comunicar de forma clara e precisa.

Por exemplo, considere o seguinte relato: “A maioria dos participantes teve um desempenho excelente”. Infelizmente, pouco conseguimos concluir a partir dessa frase, dada a subjetividade dos termos a maioria e excelente. Uma redação mais objetiva seria a seguinte: “A pontuação média dos participantes foi 85, com 70% dos indivíduos atingindo ou superando essa média”.

Além disso, em outros gêneros textuais, é comum que se usem diferentes figuras de linguagem, tais como metáforas, sinestesias e personificações. Isso é feito como recurso estilístico para deixar o texto mais agradável, como acontece em ficções. Todavia, esse uso é inadequado em artigos científicos.

Por exemplo, ao invés de dizer que “algumas aves exibem comportamentos de traição”, é melhor dizer que “certas espécies de aves, como o Tiziu (Volatinia jacarina), engajam-se em relações extra-par” (Biagolini-Jr., 2020). O termo traição tem uma conotação social e, se erroneamente aplicada a aves, antropomorfiza o comportamento desses animais.

Por fim, há uma padronização na estrutura de artigos científicos, o que facilita a leitura e a compreensão do relato. Desse modo, consumidores de literatura científica já esperam uma certa sequência na apresentação dos elementos textuais que compõem o artigo científico. Por exemplo, se você precisar de uma informação específica sobre o procedimento de coleta de dados, saberá exatamente em qual seção do texto buscá-la.

Em seguida, falaremos sobre essa estrutura padronizada.

investigação empírica para escrita de artigo científico.

Qual é a estrutura de um artigo científico?

A estrutura de um artigo científico segue um padrão. Artigos empíricos quantitativos são compostos pelos seguintes elementos: Título, Resumo, Introdução, Método, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. Contudo, pequenas diferenças podem ocorrer a depender das características do artigo e da revista científica de interesse. Por exemplo, artigos empíricos qualitativos costumam aglutinar as seções de Resultados e de Discussão em uma única seção, denominada Resultados e Discussão.

Título

O Título deve ser claro e sumarizar a principal ideia do artigo. Se possível, deve fazê-lo de uma maneira que engaje os leitores. Por exemplo, considere o título “We Don’t Know What You Did Last Summer. On the Importance of Transparent Reporting of Reaction Time Data Pre-Processing” (Loenneker et al., 2024).

O título desse artigo deixa claro que os autores argumentarão que é importante relatar de forma transparente como os dados de tempo de reação foram processados antes da análise de dados propriamente dita. Ao mesmo tempo, os autores foram criativos o suficiente para brincar com o título do artigo, que faz uma referência ao filme “Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado” (“I Know What You Did Last Summer”).

Resumo

Em seguida, o Resumo apresenta uma síntese dos principais objetivos, métodos, resultados e conclusões do estudo. Diferentes revistas científicas têm limites de palavras distintos. Em geral, esse número varia entre 150 e 250 palavras.

Uma dica útil é escrever o resumo apenas na última etapa da escrita científica. Uma estratégia é copiar e colar as principais ideias do artigo e, em seguida, reorganizar essas ideias de maneira sucinta e clara ao leitor, com conectivos que deem fluidez às ideias. Lembre-se que o objetivo é dar informações gerais para que o leitor decida se deseja ou não prosseguir com a leitura na íntegra do artigo.

Introdução

A Introdução apresenta o contexto da pesquisa e os objetivos do estudo. Ela deve descrever a literatura relevante ao tema da pesquisa, bem como as contradições e lacunas existentes.

Nessa seção, é comum também que pesquisadores apresentem as hipóteses do presente estudo, bem como justificativas que embasam as hipóteses. Uma hipótese é uma expectativa de resultado, e deve ser formulada antes que se conheça os resultados. A formulação de hipóteses após conhecer os resultados consiste em HARKing.

Método

Em seguida, apresenta-se a seção de Método. Algumas revistas chamam essa seção de Materiais e Métodos. O ponto fundamental é que essa seção visa responder à seguinte pergunta: “o que eu fiz para obter os dados dessa pesquisa?”

Mais especificamente, essa seção se divide em subseções, que caracterizam a amostra e o processo de amostragem (Participantes) e os instrumentos de coletas de dados, tais como inventários de autorrelato (Instrumentos). Além disso, há uma subseção descrevendo como ocorreu a coleta (Procedimento) e a análise de dados (Análise de Dados).

Resultados

A seção de Resultados apresenta os achados da pesquisa. Tais resultados podem ser reportados textualmente, incluindo um relato verbal e a apresentação de estatísticas descritivas e inferenciais. Além disso, figuras e tabelas podem contribuir para a apresentação dos achados. O manual da American Psychological Association dá algumas dicas de como escolher a melhor forma de apresentação dos resultados (textual, tabular ou pictórica).

Um erro comum na escrita dessa seção é reportar seletivamente os resultados que se adequam às expectativas dos pesquisadores. Essa prática é considerada má conduta científica. Outro erro é fazer interpretações sobre os achados conforme eles vão sendo apresentados. Tais interpretações devem ser adiadas para a seção seguinte.

Discussão

A seção de Discussão se destina à interpretação dos resultados da pesquisa, relacionando-os com a literatura existente. Aqui pesquisadores apontam quais resultados corroboraram o que já se sabe sobre o tema, bem como levantam hipóteses para resultados que contradizem as hipóteses de pesquisa.

Esse é um momento útil para que pesquisadores apontem como o presente estudo contribui com a literatura existente. Além disso, espera-se que uma apreciação seja feita das teorias importantes sobre o fenômeno e em que medida elas são ou não capazes de acomodar os resultados do estudo.

Conclusão

A Conclusão, também chamada de Considerações Finais, é uma seção de fechamento do artigo. Espera-se que ela seja breve. Ela tem como objetivos resumir a importância dos achados da pesquisa, explicitar as limitações do estudo e indicar as perspectivas futuras de pesquisa naquele tema.

Referências

Após a Conclusão, apresenta-se a lista de Referências, que consiste nas publicações importantes que embasaram a elaboração e a discussão do conteúdo do presente artigo. Consulte as normas de publicação da revista científica onde deseja publicar para saber como organizar a sua lista de referências.

Em seguida, fazemos duas ressalvas. Primeiramente, referências não é sinônimo de bibliografia. Em geral, a bibliografia consiste em tudo o que você consultou ao se preparar para produzir um texto científico. No entanto, nem tudo o que você consome acaba se mostrando relevante para um determinado projeto. A lista de referências é uma parte da bibliografia, isto é, aquela parte mais relevante e que foi efetivamente usada na escrita do artigo científico.

Em segundo lugar, um princípio básico se aplica na lista de referências: tudo o que for citado no corpo do texto deve estar na lista de referências, assim como tudo o que estiver na lista de referências deve ter sido citado no texto.

Como melhorar a escrita de um artigo científico?

Neste texto, descrevemos o que é um artigo científico. Um artigo científico com uma escrita clara e objetiva influencia a forma como leitores receberão e utilizarão esse texto.

Pensando nisso, a formação da Psicometria Online Academy desenvolveu o curso de Escrita Científica de Alto Impacto, que dá dicas fundamentais para uma excelente escrita científica de artigos de alto impacto, com ênfase em pesquisa quantitativa. O curso se divide em 7 módulos.

  • Módulo 1 – Estruturando uma pesquisa relevante: sua pesquisa não deve ser mais do mesmo. Estruture um estudo de alto nível, que tem o potencial de avançar o estado da arte na sua área;
  • Módulo 2 – A estrutura da fundamentação teórica: aprenda a estrutura de organização da fundamentação teórica que tornará evidente a relevância da sua pesquisa;
  • Módulo 3 – A estrutura da escrita científica: entenda as principais características da escrita científica enquanto gênero textual, que tem suas próprias regras a serem seguidas;
  • Módulo 4 – Os principais erros da escrita: evite os principais erros gramaticais e estilísticos da escrita científica, tornando assim seu texto muito mais profissional;
  • Módulo 5 – A estrutura do método: aprenda a estruturar o método de um jeito impecável, sem deixar lacunas para questionamentos e críticas de revisores e bancas;
  • Módulo 6 – Resultados, discussão e conclusão: aprenda a problematizar os resultados e a discussão dos seus achados, elaborando com enorme profundidade e qualidade técnica cada uma dessas seções;
  • Módulo 7 – O processo da publicação científica: aprenda com quem já foi editor de revistas nacionais e internacionais (Qualis A) tudo que se passa internamente nas revisas científicas, para que você tenha muito mais chance de publicação.

Se você quer aprender sobre esse conteúdo, então comece hoje mesmo o curso de Escrita Científica de Alto Impacto e melhore substancialmente a qualidade de seus textos científicos.

Referências

American Psychological Association. (2019). Publication manual of the American Psychological Association (7th ed.).

Biagolini-Jr., C. H. (2020). Influência do habitat na reprodução de Tiziu (Volatinia jacarina) no Brasil central [Tese de doutorado, Universidade de Brasília]. Repositório Institucional da UnB. http://repositorio2.unb.br/jspui/handle/10482/38765

Loenneker, H. D., Buchanan, E. M., Martinovici, A., Primbs, M. A., Elsherif, M. M., Baker, B. J., Dudda, L. A., Durđević, D. F., Mišić, K., Peetz, H. K., Roer, J. P., Schulze, L., Wagner, L., Wolska, J. K., Kührt, C., & Pronizius, E. (2024). We don’t know what you did last summer. On the importance of transparente reporting of reaction time data pre-processing. Cortex, 172, 14–37. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2023.11.012

Sabadini, A. A. Z. P., Sampaio, M. I. C., & Koller, S. H. (Orgs.). (2009). Publicar em psicologia: Um enfoque para a revista científica. Associação Brasileira de Editores Científicos de Psicologia/Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

Como citar este post

Lima, M. (2024, 18 de agosto). O que é um artigo científico? Blog Psicometria Online. https://www.blog.psicometriaonline.com.br/o-que-e-um-artigo-cientifico

Bruno Figueiredo Damásio

Sou Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia. Venho me dedicando à Psicometria desde 2007.

 

Fui professor e chefe do Departamento de Psicometria da UFRJ durante os anos de 2013 a 2020. Fui editor-chefe da revista Trends in Psychology, da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) e Editor-Associado da Spanish Journal of Psychology, na sub-seção Psicometria e Métodos Quantitativos.

 

Tenho mais de 50 artigos publicados e mais de 5000 citações, nas melhores revistas nacionais e internacionais.

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